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Regressarei ao Douro da minha predilecção amanhã numa excursão organizada pelo Círculo Literário Agustina Bessa-Luís e pelo Instituto D. António Ferreira Gomes. Vamos visitar as terras de que fala Agustina no seu Vale Abraão e de que mostra imagens o filme de Manuel Oliveira.
Serão lidas passagens do livro Vale Abraão durante a viagem de autocarro, lançadas as últimas obras de Agustina e, noutro lugar, será projectado o filme de Manoel de Oliveira realizado a partir do romance.
È um grande programa que inclui prova do vinho Sibila, viagem de comboio da Régua ao Vesúvio, visitas e almoços nas quintas da Pacheca e do Vesúvio e intervenções sobre a obra agustiniana.
Outras visitas relacionadas com a região de Baião e com as obras de Agustina estão a ser programadas.
De modo que, ainda há pouco vim de lá, mas não me canso.
São terras bravias, de montanhas magníficas e rios românticos uns, desassossegados todos. Os homens plantaram a terra, alteraram, melhoraram para si e para o mundo o que era basicamente rude e grandioso. Por uma vez, não a arruinaram esteticamente ao adequarem-na aos seus interesses.
Por isso, a região do Douro, depois de ter clamado a atenção pelas gravuras rupestres recentemente descobertas, chama agora e cada vez mais o nosso cuidado para a paisagem e para o que lá se cultiva: a vinha e o vinho de grande qualidade – essa coisa refinadamente doce, de bela cor, de pouca espessura e de transparência, de calor, sabor e perfume comoventes.
Neste momento, estou a olhar o mesmo rio, aqui e agora, tão pacífico, melhor, dissimulado, onde vim procurar um sítio sem vento. E como não posso estar calada por muito tempo, comecei a escrever, o que para mim é o mesmo.
Já quase não ouço o ruido dos carros, das camionetas, dos autocarros que todos passam pelo meu lado esquerdo. E ainda mais à esquerda, brinca um carro electrico fingindo-se apressado. É de museu e um dia destes vou trazer aqui o meu neto. Será que vai acreditar que era num carro daqueles que a avó ia para a escola todos os dias?
Eu queria era um lugar sem vento irritante e se possível sem pessoas loucas a falarem sozinhas, a discutirem com gestos largos e sacudidos de zanga e eu não vejo ninguém por perto fora dessas condições. Quando muito… vejo… alguém com um cão pela trela, mas sem graça.
As folhas e os ramos das árvores continuam a dançar desalmadamente e eu perco a esperança. Apenas o rio está tranquilo. Vou fixar aquela margem com a minha nova máquina. Mandei arranjar a velha, é dela que eu gosto. O pedaço de margem é bonito com casario e arvoredo em cascata e barcos ancorados; também tem céu e nuvens. Só a máquina velha sabe fixar esta beleza de modo realista.
Caminhei por uns minutos, com o vento do norte tentando arrancar-me o chapéu e penetrar no corpo através do pobre casaco de Verão. Era incómodo. Voltei ao carro.
E tive sono, imaginem, deu-me tanto sono! Como achei perigoso ficar a dormir dentro do carro, voltei para casa.
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