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"The answer is blowing in the wind"

por Zilda Cardoso, em 14.09.14

Depois de pequenas viagens incomuns e estimulantes, tenho agora para passar uma semana num lugar de sol, fora das rotas do turismo mais ou menos internacional.

É um Verão muito aventuroso, este.

Vou para uma pousada a quilómetros da cidade e da beira-mar, um palácio do século XVIII. Se bem que não dê, no momento, valor ao palácio, mas muito mais à colocação dele no mundo das coisas que me interessam, e não saiba como ele se situa em relação a isso, aceitei a aventura. E após várias hesitações e esforços, fiquei satisfeita por não ceder a instigações para lugares mais perto do mar e da areia tórrida e da agitação inusitada das esplanadas onde criaturas se queimam voluntariamente ao sol.

Por vezes, agrada-me observar o movimento das pessoas, do sol, das nuvens coloridas; agradam-me as neblinas matinais e as gaivotas estridentes e sempre com rotas definidas, os barcos que levam e trazem mistérios, aproximando-se perigosamente das rochas. Considerarei mesmo o ar carregado de humidade que não posso deixar de respirar.

Possivelmente, vou ter saudades disso tudo, neste pouco tempo, arredada. Assim mesmo, são apenas alguns dias, regressarei a penates e aos nevoeiros em breve, na pior das hipóteses.

Agradam-me, de que maneira, as surpresas e as coisas novas, os pensamentos sérios e raros de que fala Steiner, os brilhos ao longe e os sons suaves aqui. É o ruído das ondas que saboreio, e é também a música de Bach, a frescura, a espontaneidade, a inocência e a procura.

Procura concentrada, a todo o preço: de pessoas estimáveis que acabam por ser muitas em biliões sobre a Terra. Agrada-me a inteligência e a capacidade poética de alguns e palavras relacionadas com isso e os gestos e as boas intenções. Reconheço o imenso valor da verdade, da honestidade, da compaixão e do interesse pelos outros, de que fala o Dalai Lama.

Volto à música, porque é o que mais admiro e prezo e afinal aquilo de que menos sei. Não conheço nada da sua organização formal, da técnica nem da instrumentação. Nem sequer sei o que é “o universo real do som” nem o que é a música, no fim de contas. “A música é ela própria” terá escrito Schopenhauer.

Definir música não é o que mais me importa. Há muitos outros temas que não seria capaz de desenvolver e não acho isso fundamental. No entanto, a música…

“As coisas excelentes são raras e difíceis”, acredito em Espinosa. Talvez eu encontre naquele lugar ao sol, de sol, alguns pensamentos difíceis e ordenados que me ponham tão feliz como quando oiço um certo quarteto de Beethoven ou leio em Heraclito a metáfora admirável que me reconcilia com o mundo.

E tal como G. Steiner, que tenho estado a reler sempre com o mesmo interesse, conseguirei escutar e compreender melhor.

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publicado às 14:56


7 comentários

De Vicente a 04.09.2014 às 10:29

Bravo, do melhor que tem escrito! Muito bom.

Veja se escreve um primeiro capítulo de um policial...palácio no meio de vegetação...pede um princípio de crime amoroso...

Seria uma nova Agatha Christie dos tempos modernos...

De Zilda Cardoso a 04.09.2014 às 11:30

Crime... está bem, mas amoroso?! Nunca compreendi isso, não há dúvida de que tenho muitas coisas para analisar. Vou ter tempo.

De Vicente a 04.09.2014 às 11:55

se for um crime político é boring...se for um crime económico, já nos chega, se for amoroso...bem entre os arvoredos, o corpo desnudo sobre as folhas de côr amarelada e secas, o quarto no Palácio com as gavetas remexidas...

Olhe Zilda, são ideias, mas há que criar o ambiente amoroso do casal Isadora and Igor...ahahaah

De Zilda Cardoso a 04.09.2014 às 14:18

Está cheio de ideias, é melhor aproveitar. Por sinal, penso que o Manel é que devia escrever um policial cheio de imaginação, ameaças, desafios, problemas, labirintos, enigmas, estratégias...
Veríamos.

De Vicente a 04.09.2014 às 18:33

muito mal chutar a bola para mim...buábuá

De Zilda Cardoso a 04.09.2014 às 20:18

Como?
Eu disse que o Manel é que devia escrever um policial...
Who are you?

De Vicente a 04.09.2014 às 20:20

Romeiro, romeiro quem és tu?

Ninguém...

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