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Depois de pequenas viagens incomuns e estimulantes, tenho agora para passar uma semana num lugar de sol, fora das rotas do turismo mais ou menos internacional.
É um Verão muito aventuroso, este.
Vou para uma pousada a quilómetros da cidade e da beira-mar, um palácio do século XVIII. Se bem que não dê, no momento, valor ao palácio, mas muito mais à colocação dele no mundo das coisas que me interessam, e não saiba como ele se situa em relação a isso, aceitei a aventura. E após várias hesitações e esforços, fiquei satisfeita por não ceder a instigações para lugares mais perto do mar e da areia tórrida e da agitação inusitada das esplanadas onde criaturas se queimam voluntariamente ao sol.
Por vezes, agrada-me observar o movimento das pessoas, do sol, das nuvens coloridas; agradam-me as neblinas matinais e as gaivotas estridentes e sempre com rotas definidas, os barcos que levam e trazem mistérios, aproximando-se perigosamente das rochas. Considerarei mesmo o ar carregado de humidade que não posso deixar de respirar.
Possivelmente, vou ter saudades disso tudo, neste pouco tempo, arredada. Assim mesmo, são apenas alguns dias, regressarei a penates e aos nevoeiros em breve, na pior das hipóteses.
Agradam-me, de que maneira, as surpresas e as coisas novas, os pensamentos sérios e raros de que fala Steiner, os brilhos ao longe e os sons suaves aqui. É o ruído das ondas que saboreio, e é também a música de Bach, a frescura, a espontaneidade, a inocência e a procura.
Procura concentrada, a todo o preço: de pessoas estimáveis que acabam por ser muitas em biliões sobre a Terra. Agrada-me a inteligência e a capacidade poética de alguns e palavras relacionadas com isso e os gestos e as boas intenções. Reconheço o imenso valor da verdade, da honestidade, da compaixão e do interesse pelos outros, de que fala o Dalai Lama.
Volto à música, porque é o que mais admiro e prezo e afinal aquilo de que menos sei. Não conheço nada da sua organização formal, da técnica nem da instrumentação. Nem sequer sei o que é “o universo real do som” nem o que é a música, no fim de contas. “A música é ela própria” terá escrito Schopenhauer.
Definir música não é o que mais me importa. Há muitos outros temas que não seria capaz de desenvolver e não acho isso fundamental. No entanto, a música…
“As coisas excelentes são raras e difíceis”, acredito em Espinosa. Talvez eu encontre naquele lugar ao sol, de sol, alguns pensamentos difíceis e ordenados que me ponham tão feliz como quando oiço um certo quarteto de Beethoven ou leio em Heraclito a metáfora admirável que me reconcilia com o mundo.
E tal como G. Steiner, que tenho estado a reler sempre com o mesmo interesse, conseguirei escutar e compreender melhor.
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