
Cristóvão Aires, general e historiador que viveu entre 1853 e 1930, escreveu um livro de poesia intitulado Cinzas ao Vento onde se pode ler um poema que muito aprecio e que foi inspirado num outro romântico e por demais conhecido de Almeida Garrett As Minhas Asas.
Há muitos anos, adoptei como programa de vida uma quadra desse poema, não quero dizer que o tenha cumprido. Mas tive essa intenção e, por isso, para não esquecer, escrevi esses quatro versos num papel branco que colei no vidro da minha estante, onde forçosamente o veria todos os dias. Tal como agora acontece com o pequeno cartaz oferecido pelo Pedro - cultivez les pensées positives - com 12 amores-perfeitos reproduzidos a cores, todos diferentes, todos igualmente belos.
A folha branca, que encontrei há dias misturada com outros papéis a necessitarem de arrumação, já não é branca, está amarelada e os versos nele escritos... um pouco esquecidos.
Quero reavivá-los e partilhar.
NAS MINHAS ASAS NEVADAS
QUE UM RAIO DE SOL DOUROU,
FUJO DE QUANTO É MESQUINHO
OU A VIDA AMESQUINHOU.
Voltarei a escrevê-los numa folha imaculada e a colocá-los no vidro da estante na minha frente ao lado dos amores perfeitos e dos pensamentos positivos.
Espero, nesse voo tranquilo, sentir-me subir, subir… como acontecia com o Poeta.


Decidi aproveitar este prolongamento de Verão para viajar.
Pensei em lugares que raramente ou nunca tinha frequentado, mas começaria por um muito meu conhecido e do meu inteiro agrado. Para me sentir confiante.
A viagem será por blogues e a primeira visita hoje é ao blogue da Laurinda Alves. Aí encontrei recomendações preciosas para outros lugares como o Omuhipiti que é o nome da Ilha de Moçambique e significa Esconderijo. Fui logo para lá, encontrei o Tiago Forjaz, e vi imagens lindíssimas e pequenas informações muito divertidas.
A seguir, visitei o caderno de Saramago e dei conta, para grande satisfação minha, que o grande escritor tinha finalmente adoptado um tom que me pareceu justo para um blogue. O texto sobre Fernando Pessoa é precioso e vale a pena fazer a viagem para o ler.
Continuei..., mas achei seguro voltar ao sítio da Laurinda onde me recordava de ter visto informações sobre o blogue de uma jovem apaixonada por fotografia, Mariana Sabino, fotógrafa com mestrado feito em Londres. As suas imagens são frescas e deliciosas, coloridas e estimulantes. Aprecio o seu jardim e os seus cabelos compridos e loiros, o seu estilo de vida, pelo menos, tão interessante e sábio como as suas fotografias.
E sei que vive em Lagos onde estou também neste momento e termino o primeiro dia de viagem.
Fiz muitas coisas na primeira etapa. Olho para o emaranhado de mastros dos veleiros na frente da minha varanda (tenho sempre uma varanda) e penso que se quisesse tirar o meu barco da Marina, teria pouco espaço de manobra e muita dificuldade. Até porque não tenho barco…
Gostaria de sair nele, deitar-me no fundo e navegar brandamente até ao largo mar, onde uma ligeira brisa me embalaria enquanto recitasse os versos de Shelley.
E adormeceria muito tranquila.