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Manhã AZUL

por Zilda Cardoso, em 28.06.17

Em Junho, tenho-me empenhado na busca da manhã de Verão deslumbrante de que falam os poetas.

E saí para a praia num dos últimos dias possíveis.

O mar estava todo de azul, de muitos azuis amalgamados ou confundidos com outras tintas, de modo a resultar uma imensidão colorida como nunca antes tinha visto. E não sei classificar: cores novas conseguidas no momento, irrepetíveis, segundo penso. Nada tão harmonioso e inesperado mesmo para mim que o contemplo todos os dias.

E o céu, diria, azul de diferentes tonalidades, misturas, combinações de grande mestre que não explica como o faz nem por quê, o que o orienta.

Não havia vento, nem chuva, nem sol, nem nevoeiro; não havia frio nem calor, nem mágoas nem espinhos… apenas uma serenidade, uma transparência, um silêncio ligeiramente musical… Graça? Talvez… não, não sei…

Uma beleza incomparável, sim. Um regalo.

Era isto que procurava, foi o que achei há poucos dias: o momento feliz de deslumbramento que aconteceu e não voltará a acontecer.

E que não sei imaginar. Uma imagem real está na minha memória, desconheço como se desenha e se pinta ou como se descreve.

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publicado às 16:42

"The answer is blowing in the wind"

por Zilda Cardoso, em 14.09.14

Depois de pequenas viagens incomuns e estimulantes, tenho agora para passar uma semana num lugar de sol, fora das rotas do turismo mais ou menos internacional.

É um Verão muito aventuroso, este.

Vou para uma pousada a quilómetros da cidade e da beira-mar, um palácio do século XVIII. Se bem que não dê, no momento, valor ao palácio, mas muito mais à colocação dele no mundo das coisas que me interessam, e não saiba como ele se situa em relação a isso, aceitei a aventura. E após várias hesitações e esforços, fiquei satisfeita por não ceder a instigações para lugares mais perto do mar e da areia tórrida e da agitação inusitada das esplanadas onde criaturas se queimam voluntariamente ao sol.

Por vezes, agrada-me observar o movimento das pessoas, do sol, das nuvens coloridas; agradam-me as neblinas matinais e as gaivotas estridentes e sempre com rotas definidas, os barcos que levam e trazem mistérios, aproximando-se perigosamente das rochas. Considerarei mesmo o ar carregado de humidade que não posso deixar de respirar.

Possivelmente, vou ter saudades disso tudo, neste pouco tempo, arredada. Assim mesmo, são apenas alguns dias, regressarei a penates e aos nevoeiros em breve, na pior das hipóteses.

Agradam-me, de que maneira, as surpresas e as coisas novas, os pensamentos sérios e raros de que fala Steiner, os brilhos ao longe e os sons suaves aqui. É o ruído das ondas que saboreio, e é também a música de Bach, a frescura, a espontaneidade, a inocência e a procura.

Procura concentrada, a todo o preço: de pessoas estimáveis que acabam por ser muitas em biliões sobre a Terra. Agrada-me a inteligência e a capacidade poética de alguns e palavras relacionadas com isso e os gestos e as boas intenções. Reconheço o imenso valor da verdade, da honestidade, da compaixão e do interesse pelos outros, de que fala o Dalai Lama.

Volto à música, porque é o que mais admiro e prezo e afinal aquilo de que menos sei. Não conheço nada da sua organização formal, da técnica nem da instrumentação. Nem sequer sei o que é “o universo real do som” nem o que é a música, no fim de contas. “A música é ela própria” terá escrito Schopenhauer.

Definir música não é o que mais me importa. Há muitos outros temas que não seria capaz de desenvolver e não acho isso fundamental. No entanto, a música…

“As coisas excelentes são raras e difíceis”, acredito em Espinosa. Talvez eu encontre naquele lugar ao sol, de sol, alguns pensamentos difíceis e ordenados que me ponham tão feliz como quando oiço um certo quarteto de Beethoven ou leio em Heraclito a metáfora admirável que me reconcilia com o mundo.

E tal como G. Steiner, que tenho estado a reler sempre com o mesmo interesse, conseguirei escutar e compreender melhor.

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publicado às 14:56




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