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Continuo a leitura das Oitavas de Camões.
O Poeta escreve: “… se este estranho desconcerto novamente (ou pela primeira vez?) no mundo se mostrasse, que por livre que fosse e mui esperto, não era de espantar se me espantasse”.
Quinhentos anos depois, anos de liberdade e de esperteza, seria de espantar se qualquer de nós se espantasse ainda com o estado do mundo.
Ele está desconcertado e foi posto assim pelos que o habitam e o vão desarrumando desde há muitos séculos ou desde sempre. Não sei se alguma vez o compuseram ou intentaram alinhá-lo ou se, por sistema, deixaram isso aos heróis e semi-deuses, quiçá aos deuses. Que não tiveram muito êxito.
“Não é para causar mui grande espanto que mal tão mal olhado dure tanto”.
O que parece estar a acontecer, já aconteceu mil vezes antes.
Talvez seja mais divertido assim, por isso não nos empenhamos em compô-lo.
Pensando bem, já tem havido tentativas, mas com o decorrer dos séculos, vão ficando esquecidas.
Será mais interessante deste modo, sobretudo para quem o aprecie de grande distância e de fora.
Acontece que não é só o nosso planeta no seu interior que está desconcertado, mas o sistema. Vejam o Sol no seu movimento anual: em vez de traçar um percurso certinho em volta da Terra, paralelamente ao equador, ele faz uma trajectória elíptica, por isso, o ângulo horário medido entre a elíptica do Sol e o equador não é constante. E a órbita da Terra em torno do Sol é elíptica também, por isso, o movimento do Sol é mais rápido nos meses de Inverno. De tudo resulta que não há nenhum dia igual ao outro, por mais que se procure… e que se mude a hora...e que não gostemos de a mudar. Nem mesmo os dias do ano anterior da mesmíssima época são iguais aos deste ano.
E sobre o Sol, reparem, o seu movimento não é autêntico como seria de esperar tratando-se de um assunto fundamental. Sabemos que é aparente e tudo o que concluímos sobre o seu movimento é a dissimular, é astucioso, camuflado, mascarado. Dizemos: o Sol roda em volta da Terra, mas sabemos que é a Terra que gira em volta do Sol.
E assim por diante: tudo desconcertado.
Como assim? Não podemos fazer nada? Ou vamos concertar isto? Ou consertar? Fingiremos que acreditamos e continuamos a seguir o exemplo das estrelas que, (acontece com o Sol), aparentemente brilham para nós?
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