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Um dia destes, aterrou aqui um grupo de flamingos cor-de-rosa.
Embelezaram o lugar, misturando-se com brancos e cinzentos, mas no dia seguinte partiram.
Adoro a suavidade do pôr-do-sol perto do lugar que esta passarada escolheu para viver. Há várias gerações que são meus vizinhos e simpáticos.
O rio é mesmo de ouro: por vezes, o sol toma a sua cor.
Esta minha paixão por patos deve vir do tempo em que ia com o avô levar-lhes pão e passar uma tarde tranquila no jardim romântico da Cordoaria.
Gosto ainda de ver como se divertem, como mergulham fundo, como brincam uns com os outros e brigam e berram... Admiro o brilho da plumagem, a elegância do pescoço esticado em pleno voo ou pousado no chão, o ar satisfeito de família numerosa quando se passeiam ao fim da tarde - o pai, a mãe e a prole em fila...
Vejo-me a sorrir sempre que olho para eles, mesmo para os que não são de carne e osso.
Há anos, quis fazer uma colecção de parrecos de barro e doutros materiais. Porém, ao fim de pouco tempo, a prateleira da estante estava cheia e eu não pude imaginar o armário repleto de patos, e esta divisão da casa, e a casa toda cheia deles. Não pude imaginar, de modo que ficou assim, os patos estão lá de asas abertas ou fechadas, com ar de quem vai voar ou navegando tranquilamente, sempre olhando para mim, de qualquer ângulo, esteja onde estiver. Não fugiram, não foram devorados, mas também não cresceram.
Agora, um grande lago na Quinta do Casal permite-me ter patos bravos sem limite. Contudo, percebi que uma coisa é o meu desejo, outra é o desejo deles.
Apareceu uma pata, o ano passado e eu fiquei à espera do masculino que havia de fertilizá-la. E ele veio, será ali rota de migrações, vieram dois com ar de realeza. Ficaram por algum tempo, depois um foi embora educadamente. Algumas semanas depois, desapareceu o casal, quer dizer, em vez de ela levar o pato a fixar-se, levou-a ele a ausentar-se.
No entanto, de vez em quando ela aparecia. Soube-se então que fizera o ninho por ali, no riacho, chocara os ovos, nasceram os filhotes que chegaram a aparecer no lago, mas ela retirou-os, sentindo-os em perigo, e levou-os para o rio onde tinham nascido.
Depois disto, muitas tentativas foram feitas com boa vontade - com patos bebés, com patos mansos, coelheiros e trompeteiros...
A verdade é que o lago não está sempre tranquilo, se bem que rodeado de planície e montanha, e por isso não pode ser assegurada a serenidade dos seus habitantes. A cada passo, há grupos de miúdos que fazem canoagem e muito movimento e confusão.
Não há coexistência possível, pacífica.
fotos de Jorge Cardoso
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