O gesto de me levantar com o Sol da manhã e ficar por um tempo num espaço aberto, aparentemente observando a natureza, tem muito a ver com o meu gosto e esforço de nascer de novo cada dia num mundo novo.
Será estranho? O Tempo recomeça nesse momento e eu sinto-me próxima da realidade primordial. As minhas forças vitais estão no máximo da sua potência exactamente como quando nasci e o mundo nasceu comigo. É um regresso ao entusiasmo, ao alvoroço e à clareza de que me vou afastar gradualmente durante o dia. Mas não posso evitá-lo: é a vida, dirão.
Para mim, há o modelo da criação, a cosmogonia, “suprema manifestação divina”, a história ou o mito que explica a criação do Mundo e que me foi contado pelos meus antepassados e a estes pelos seus antepassados míticos, in illo tempore. Sei que é assim porque sempre foi assim.
É o que apeteço recordar cada manhã, sozinha ou com aqueles que querem acompanhar-me. Já que não tenciono esquecer esse modelo de perfeição e de pureza, reajusto-me a ele, aproximo e comparo a minha vida actual dessa vida exemplar, tento corrigir os desvios.
Pratico os gestos rituais apropriados, faço desse modo a FESTA que actualiza para mim o tempo original - sempre igual, sempre perfeito, eterno presente. Nesses momentos, sinto-me viver na presença do divino, do sagrado, em comunhão com ele no tempo e no espaço, mas ali mesmo simbolicamente perto do Centro: só podem ser momentos felizes, de solenidade e de alegria.
Seja o que for que aconteça depois…
Por isso, é importante regressar periodicamente à festa: ao tempo e ao lugar da festa.
(ler Mircea Eliade)