Maria do Céu Figueiredo escreveu um poema algo ingénuo e muito sofrido que eu li e prometi divulgar. Foi há muito tempo, há dois anos… há mais… exactamente quando os arquitectos Siza Vieira e Souto de Moura acabaram o arranjo da Avenida mais importante do Porto – a sua sala de visitas.
Quase toda a gente, incluo-me nesse número, ficou muito magoada e penso que ainda nos não recompusemos do abalo. De forma que não é despropositado reproduzir hoje as palavras da poetisa portuense.
Bela avenida do Porto! /Onde estás? E os teus encantos? /Os relvados onde tantos/- Aves, pessoas, crianças -/Com deleite e com conforto/Saltitavam, descansavam/Ou brincavam de alegria/ Quer de noite, quer de dia? / Ou em noite de folia/- A noite de S. João -/Dormiam até ser dia/Na tua relva macia, /Felizes de coração? /Onde estás, que não te vejo? /Mas sabes que o meu desejo/ Era ver-te e admirar-te
Ou talvez não, para quê? /Para quê, verde relvado/Para quê tão verde prado/Que enchia os olhos de cor? /Para quê tanta flor?
Agora… pedra sem cor, /Sem perfume ou macieza! /Onde está sua beleza? /Se nos quisermos sentar/Ou deitar para descansar/ Temos pedra, pedra, sim! /E os banquinhos do jardim/São hoje cadeiras, só! /Cadeiras que metem dó!
E a continuar assim/As almas dos “Aliados”/Aliadas à beleza/Da menina de olhos de água/Virão chorar sua mágoa! /E os olhos da menina, /De humidade toldados, / Continuarão a chorar/Lá do alto, a recordar/Os verdes dos tempos idos/ E toda a policromia/Que esta avenida exibia/E jamais serão esquecidos! /Chora, de olhos magoados, /Menina dos Aliados!