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Cantando… espalharei por toda a parte…

por Zilda Cardoso, em 25.03.19

 

Falei do mar, mas há também o céu que  igualmente contemplo da minha janela.

Eu sei que há céu por todo o lado, mas aqui, é diferente. Porque este reflecte o mar tal como o mar reflecte o céu. Por isso, um e outro, se bem que díspares, são neste lugar, para mim, fonte de emoção.

No momento, há barcos à vela, minúsculos, navegando a sua tranquilidade por aqui, por este mar.

Que não mostra barcos reflectidos, mas vagas nuvens brancas bem desenhadas.

E à noite, é comum o céu apresentar estrelas cintilantes que o mar hábilmente reflecte.

Verdadeiramente, o que mais aprecio é a linha que os separa. É essa que me apaixona. Às vezes, é pura, sem névoa e sem interferências. Outras, com interferências, mas sempre deixa passar os barcos mesmo enormes, até gigantescos, para o outro lado, para o desconhecido.

Fico a pensar no que vão descobrir, gostava de ir neles para mares nunca dantes navegados como fizeram no século XV e já antes os meus antepassados. O que quer dizer que ajudaram a construir o mundo ou a dar forma a mundos que já existiam.

Mares…?!Se é o que há do outro lado da linha horizontal…

Haverá também terras desconhecidas e povos insólitos e costumes extravagantes. Haverá tantas coisas boas e bonitas e úteis…E também possivelmente o que é leviano e fútil e frágil.

Não quero saber disso.

Preciso de ver, quero conhecer. São de certeza factos radicalmente inesperados que me agradarão ou não. Novos, enigmáticos, luminosos ou transparentes. Acontecimentos com força sedutora capaz de incendiar o meu pensamento, torná-lo vivo e fecundo.

Irei com os novos descobridores.

E estes escritos são para, antecipadamente, louvar a glória daqueles com quem terei embarcado.    

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publicado às 11:27

Manhã AZUL

por Zilda Cardoso, em 28.06.17

Em Junho, tenho-me empenhado na busca da manhã de Verão deslumbrante de que falam os poetas.

E saí para a praia num dos últimos dias possíveis.

O mar estava todo de azul, de muitos azuis amalgamados ou confundidos com outras tintas, de modo a resultar uma imensidão colorida como nunca antes tinha visto. E não sei classificar: cores novas conseguidas no momento, irrepetíveis, segundo penso. Nada tão harmonioso e inesperado mesmo para mim que o contemplo todos os dias.

E o céu, diria, azul de diferentes tonalidades, misturas, combinações de grande mestre que não explica como o faz nem por quê, o que o orienta.

Não havia vento, nem chuva, nem sol, nem nevoeiro; não havia frio nem calor, nem mágoas nem espinhos… apenas uma serenidade, uma transparência, um silêncio ligeiramente musical… Graça? Talvez… não, não sei…

Uma beleza incomparável, sim. Um regalo.

Era isto que procurava, foi o que achei há poucos dias: o momento feliz de deslumbramento que aconteceu e não voltará a acontecer.

E que não sei imaginar. Uma imagem real está na minha memória, desconheço como se desenha e se pinta ou como se descreve.

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publicado às 16:42

O DIA SEGUINTE

por Zilda Cardoso, em 26.12.08

 

 

Ontem e anteontem foram dias de movimento, de ruídos agradáveis e de espaços ocupados: lá em casa, foram dois dias de encontros e de comemorações, de braços abertos e de palavras deliciosas, de brilhos e de pacotes com fitas vermelhas, de decorações tradicionais e de um certo desejo de renovação.

Dia seguinte, hoje, havia silêncio a mais, largos excessivos espaços vazios, ninguém em casa. O perfume a incenso tinha-se evaporado, as velas estavam apagadas e gastas, os papéis de belas cores e as fitas tinham desaparecido, a árvore estava murcha. Apenas os presépios continuavam a narrar a sua história.

Gosto de espaços livres, aprecio o silêncio e a tranquilidade, o perfume bom, e sinto-me bem só, num ambiente simples. Por que então os meus olhos estavam húmidos e vermelhos?

Toda a manhã, estiveram assim, cheguei a irritar-me com eles, mas não havia nada a fazer. A não ser sair: a casa tornou-se insuportável, poluída de saudades, pobre de calores e de confortos - de palavras, de gestos, de maviosidades…

Saí em busca, não sei de quê. Talvez daquela tranquilidade que pode estar no movimento das crianças que, no momento, enchiam os parques infantis enquanto as famílias passeavam na esplanada cheia de sol.

Deliciei-me com a agitação do mar, com as suas brincadeiras infantis, os seus jogos de chutos e pontapés contra os rochedos, os saltos leves e espumosos e brancos, o enrolar e o espraiar preguiçoso na areia sempre disposta a absorver o que sobra dele.

Sabem, tirei uma grande conclusão deste divertimento do mar: acho que ele não é inteligente. Ou então não mostra a lógica ou a legitimidade dos seus movimentos. Porém, é tentador e cativante, tanto que facilmente se lhe desculpa seja o que for. Mesmo as gaivotas, que a todo o momento se reúnem na beira-mar para resolver os seus graves problemas, o olham com condescendência quando ele se atreve a espreguiçar-se até elas.

Então levantam-se e vão sentar-se um pouco mais para além, sem proferir palavra. Continuam a reunião e, daí a pouco, repetem a cena: levantam-se outra vez para assentarem arraiais um nadinha acima.

Enquanto eu... tinha que voltar para aquela casa e… foi o que fiz: voltei. Pus a minha música e recebi uns quantos telefonemas repletos de palavras simpáticas e de grandes abraços. Encheram-me de privilégios que aceitei. 

Fiquei bem.

Obrigada.

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publicado às 21:17




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