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Depois do S. João...

por Zilda Cardoso, em 24.06.09

 

Afinal não fui à Festa.
Ignorarei para sempre se esteve mais ou menos animada que nos outros anos, se os foguetes do Porto foram menos espectaculares que os de Gaia ou o inverso, se houve bailes nas ruas e cascatas, se os manjericos eram mais ou menos perfumados e se os molhos de cidreira se vendiam pela quantia  habitual... Continuará o alho a deixar o seu cheiro nas cabeças que só se lavam no dia seguinte? Serão os martelos maiores e mais duros?
Sobre o tema, fiquei sem o saber de experiência feito.
Vi da minha varanda passarem pessoas sanjoaninas a caminho de Matosinhos pelas 8 da manhã com ar tão cansado e lento como o dos autocarros que seguiam na mesma direcção. As barracas dos hambúrgueres e as das farturas na avenida marginal fecharam a essa hora e foram-se, deixando o chão engordurado.  
A manhã está sem graça, cinzenta e fresca. É bom, depois do excessivo calor do sol dos últimos dias e da festa que termina. A cidade terá voltado ao seu ar sombrio, húmido e granítico, a uma certa frieza e sombra própria do Norte Europeu que se reflecte nos cidadãos. (Não devo dizer frieza e sombra mas contenção).
Contenção, brio e gosto por simplicidade e "naiveté" é o que leva os portuenses a afastarem-se do centro do poder, para seu bem, do bulício e da manha política para ficarem apenas com a manha saloia que é outra coisa e lhes serve perfeitamente.
E nos serve perfeitamente… Contudo, posso jurar que nunca a uso, fica sempre de lado, como última hipótese.
Para além da festa de São João, admiro o velho burgo medieval, a dimensão da cidade, o mar tão próximo, o rio que é tão azul como o Danúbio que nada tem de azul, o Parque, a casa da Música e a de Serralves, os outros espaços para acontecimentos culturais, e a abertura que ainda há para os que nos visitam com boas intenções (Infelizmente, temos sido muito visitados nos últimos tempos por gente indesejável que acabou com a sensação de segurança que sempre tivemos nas ruas e nas casas).
 
É uma cidade muito fotogénica, pelo que se vê nas fotografias da A. De Lima em exposição na Vantag, tem bom ambiente, um certo sossego fora desta madrugada única, um colorido sofisticado, e um ligeiro perfume que pode não ser o da sardinha assada - nem todos o saboreiam de boa mente. E há por aí palavras que não se dizem em nenhum outro lugar (como molete, estrugido, morcão, trengo e rebutalho. Sei muitas outras, mas só a pedido).

 

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publicado às 11:31




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