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A cidade das sete pontes

por Zilda Cardoso, em 23.06.09

 

 

Em tempos, esta cidade era chamada a Aldeia da Ponte Nova por quem queria troçar carinhosamente da ruralidade tripeira.
No presente, além dessa da Arrábida e das três do século XIX, temos outras três, moderníssimas, elegantes, funcionais e muito bem desenhadas, algumas por engenheiros portuenses.
Podemos ser a Cidade das Sete Pontes, não é giro? Embora de uma delas haja apenas uns restos (a ponte pênsil), dá um ar de avançada civilização dizer que moramos na cidade do mundo possuidora de mais pontes, logo de mais avançada civilização.
Orgulho-me da cidade e das pontes que têm inúmeras significações e utilizações: não nos isolam do mundo nem sequer dos vizinhos, mas ligam-nos a todos. E nós é que estabelecemos os elos, já viram?
Afirmam que o mais importante no nosso tempo é a comunicação. Por isso, quando as comunicações em geral se começaram a desenvolver… surgiram no Porto os grandes projectos de pontes.
Pontes que interligam pontos e problemas desligados e de outro modo não acessíveis. Contudo, para nós portuenses, tornou-se fácil comunicar agora que temos muitas ligações sobre o rio-azul-e-de-ouro que nos separava dos outros. Pontes/ligações para sete temas possíveis de comunicação.
Têm que concordar que é bom.
Como é excelente a Festa de S. João - afinal, a oitava ponte do Porto: de fácil, alegre e ruidosa, civilizada comunicação.

Amanhã conto como foi.

 

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publicado às 22:19

O Senhor dos Perdidos

por Zilda Cardoso, em 29.08.08

 

 

fanfarra 2

 

Durante duas horas, os amigos estiveram a chegar, a cumprimentar-se com grandes abraços e exclamações. Não se viam desde  o ano anterior, ou desde a última reunião da confraria, ou desde a convenção da associação a que pertenciam... E punham a conversa em dia, muito regada com vinho verde fresquíssimo de bela cor pálida dourada.

Francisco Calheiros e Rosarinho cumprem com gosto a velha tradição do Paço de Calheiros: no dia da festa do Senhor dos Perdidos recebem nos jardins da sua Casa. E os amigos vêm de longe e de perto, do sul e do norte... para se encontrarem naquele lugar da encosta de uma das colinas que circundam a vila; e de onde se avista um dos mais belos e grandiosos cenários do Minho.

O Paço cumpre a tradição, a freguesia não cumpre.

A tradição mandava que a procissão entrasse na propriedade, percorresse o belíssimo terreiro de árvores seculares, passasse junto da fonte de pedra monumental até à frente da capela,  onde havia uma mesa devidamente posta (prolongamento do local sagrado que permitia que toda a gente do terreiro ficasse dentro dele). Nesse momento, o padre saudava os presentes, dava a volta à mesa e saía depois pelo mesmo portão da entrada, seguindo o percurso da aldeia. Era um alvoroço, esse excesso de percurso não parecia incomodar ninguém, excepto os que consideraram humilhantemente feudal entrar na propriedade do senhor. Que de resto tem os portões sempre abertos.

 

 

De modo que a procissão deixou de entrar na propriedade, enquanto o almoço dos amigos continuou a realizar-se, como antes. A procissão, que era pretexto para o almoço, ficou arrumada à distância, substituída por ranchos folclóricos que dançam muito bem e cantam e animam o ambiente com prazer visível e entusiasmo.

 

 

Para o almoço tradicional, cada família leva a especialidade da sua casa, mas os Calheiros oferecem a canja, a feijoada, o vinho, outras iguarias.

No fim, há discursos bem humorados, Francisco Calheiros conta com simplicidade o que de importante ocorreu na sua família desde o ano anterior. 

E chega o momento mais esperado, transcendente: ele abre solenemente as portas da sala das sobremesas e é um deslumbramento de cores e de perfumes, de brilhos e da música suave que cada um ouve dentro de si.

 

jpeg

 

Acreditava se me dissessem que a doçaria tinha sido acabada de preparar nas grandes cozinhas do Paço com ovos frescos de galinhas medievais criadas por ali. Por isso, também creio em quem afirma que come doces apenas uma vez por ano, neste dia, nesta casa.

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publicado às 06:32




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