Há duas semanas, tive uma célebre reunião com Laurinda Alves no Porto, no Clube Inglês, onde conheci o Bento Amaral e a Maria Angélica.
Tanto um como outro, são heróis do nosso tempo, aqueles que conseguem superar dificuldades e, desse modo, aproximarem-se da excelência. Ou dos deuses, se quisermos usar a linguagem dos clássicos.
Eles são melhores que o comum dos mortais em tudo, têm coragem para as mais nobres acções e talento para as realizar. Talento que não nasceu com eles, mas que souberam engendrar para si próprios ao longo da vida.
Aprecio a tranquilidade e a simplicidade, o sorriso e o olhar bom, o seu estar-de-bem-consigo-e-com-os-outros de Bento do Amaral que apesar das suas limitações físicas, constituiu família, tem um trabalho de que gosta e em que é um dos melhores, e tem o seu desporto de competição em que atinge as mais altas classificações. Não arreda pé, não desanima, tem força e poder, mas é um ser humano que sofre e se apaixona e se sacrifica.
Os heróis são seres humanos comparáveis com os deuses, os deuses assemelham-se aos heróis com uma diferença fundamental e que finalmente os distingue: os deuses são imortais. E é ao tentarem aproximar-se deles, ao procurarem a imortalidade que os heróis se excedem. E excedendo-se, “libertam-se da lei da morte” e podem e devem ser cantados pelos poetas.
Não sou capaz de os cantar em versos epopeicos como fizeram Homero, Vergílio, Camões, nem as suas virtudes são guerreiras, felizmente, mas sei que não faz sentido que estejam na sombra. Têm que ser identificados, tenho e temos que falar deles, que escrever sobre eles, mostrá-los para que sirvam de modelos - modelos de virtudes.
Bento do Amaral ama a vida, a mesma vida que me toca pelo que tem de singular.
Acho que encontrou um sentido para a sua existência, o que não é pequena coisa.
Pedem-me para contar a história que justifica o título do blog.
Começo pelo mito de Ariadne, cruzado com outros mitos como o do deus Dionísio e o do Minotauro, e poderei resumi-lo aqui, assim:
Ariadne, filha do rei de Creta Minos, apaixonou-se por Teseu, filho de Egeu, rei de Atenas.
Ele era um jovem herói capaz de matar o Minotauro – todos gostariam de matar o monstro corpo de homem, cabeça de touro, resultado dos amores insensatos de Pasifae, mulher de Minos, por um touro branco.
Minos tinha pedido a Posídon que fizesse sair do mar um touro para mostrar ser mais digno de reinar do que seus irmãos, e o mais poderoso já que tinha o favor do deus. Prometeu Minos restituir o touro sagrado, mas em vez disso aprisionou-o num complicado labirinto concebido por Dédalo, donde ninguém saía - por não encontrar a saída e por acabar devorado pelo monstro.
O rei de Atenas organizou os jogos atléticos em que o filho de Minos, Andrógeo, ganhou todos os concursos. Mandou-o então combater o touro, sabendo que isso era e querendo que fosse um envio para a morte.
Minos jurou vingança, fez a guerra e Atenas foi cercada. O rei Egeu teve de comprometer-se, para que fosse levantado o cerco, a enviar a Creta periodicamente um grupo de jovens que serviriam de alimento do Minotauro.
Teseu participou desse grupo e entrou no labirinto. Ariadne, apaixonada por ele, decidiu ajudá-lo a encontrar a saída. Engendrou um processo simples: ele levaria um novelo de lã que ela seguraria firmemente à entrada. Ele ia desenrolando o fio à medida que avançava e depois de lutar com o monstro e o vencer (a pitonisa informara-o de que venceria se fosse amparado pelo amor), pôde encontrar o caminho do regresso, onde Ariadne o esperava com novelo e paixão.
Teseu fugiu com ela, mas abandonou-a na ilha de Naxos, onde tinham parado para descansar. Vendo-se só, invocou a deusa Afrodite que lhe prometeu um amante imortal. Foi Dionísio, o deus do vinho e da festa popular, que casou com ela, doce, loira e linda, e lhe ofereceu uma coroa de ouro, cravejada de pedras preciosas. Ariadne fez-lhe prometer que a atiraria ao céu quando ela morresse.
Por isso, podemos ver hoje no céu uma constelação de estrelas brilhantes com a forma de coroa.
Este é o mito.
Contarei mais tarde porque razão a figura de Ariadne me entusiasma.