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Não gosto de fazer compras, mas de vez em quando devo... e lá vou. Sei como é importante esta acção tanto nas casas de família como em lugares de negócio.
Tenho uma amiga que foi antiquária - comprava e vendia objectos com mais ou menos um século. Ela dizia respondendo a perguntas sobre o sucesso do seu negócio: "A única coisa que me importa é comprar barato. Desde que compre barato, não me preocupo mais. O sucesso da venda está desde logo garantido."
Nunca me esqueci destas palavras que surgem cheias de sabedoria se lhes acrescentarmos que o objecto comprado barato deve agradar àqueles a que se destina. Ou se entendermos que no termo barato está já incluída a ideia… essa ideia: a de que vai agradar, a de que é conveniente, a de que o objecto é necessário. Tudo isso e mais… estarão incluídos no barato. Quero dizer, barato não é apenas o que tem baixo preço, ou antes, o que custa pouco dinheiro, mas devem estar implícitas nesse conceito todas as outras características.
De modo que é importante saber fazer compras. Quando tinha a galeria de arte e sobretudo a de “design” comprava sabendo que se tratava de objectos que custavam muito dinheiro, mas que podiam agradar a um grupo que apreciava novidades, coisas de formas simples e cumpridoras da sua função.
Eu não sabia exactamente onde estava esse conjunto de pessoas ou se era suficientemente grande para constituir o grupo de que a Galeria precisava para poder subsistir. Tive que arriscar. Na verdade, queria mudar o gosto dominante naquele sector, substituí-lo por um mais moderno. E mais alegre e luminoso. Acreditei que podia fazê-lo, e que era importante consegui-lo. Queria que toda a gente quisesse e apreciasse na sua própria casa uma decoração verdadeiramente contemporânea no gosto e nos materiais.
Depois de estudar o assunto e de reflectir – de formar o meu próprio gosto – achei que podia confiar nele e comecei a comprar.
Comprei segundo o meu prazer, confiando e arriscando.
Por força de exposições contínuas dos mais diversos objectos de "design" contemporâneo e da publicação de artigos em revistas e em catálogos, penso que consegui o meu objectivo. Tenho muitas histórias para contar sobre este projecto já antigo, mas hoje propus-me falar de compras. Boas compras domésticas.
Recebi pelo correio dois vales de desconto de 10% em artigos vendidos em determinados supermercados e, embora deteste todo o tipo de acções que nos levam a consumir mais, muito estratégicas e próprias de sociedades de consumo, como vales, cartões, promoções e não sei quê, decidi desta vez, dada a crise, aproveitar. E lá fui, munida dos vales.
Peguei num carro de compras vermelho e enorme e empurrei-o alegremente por todo o espaço do mercado. Enchi-o dos mais variados produtos de que realmente precisava, se bem que tivesse podido distribuí-los por 2 ou 3 dias de compras e acarretar para casa sacos menos pesados sem dores de costas. Porém, era forçoso aproveitar o desconto.
Pronto, (fazem lá ideia!), meti embalagens de peixe, de carne, de fruta, de legumes, de cereais, de manteiga, de… de… Olhem, enchi a transbordar.
Na Caixa, a empregada pediu-me o cartão e eu exibi também orgulhosamente o vale de desconto. Para minha surpresa, a empregada disse: “Esse vale é só a partir de 15 de Janeiro”.
Empalideci. Ia morrendo. Não tenho razão para detestar estas promoções sofisticadas?
Fiquei furiosa comigo. Voltei a colocar no carro vermelho a dezena de sacos cheios, empurrei o carro (sempre a resmungar contra a minha estupidez), pelo centro comercial fora, desci ao lugar de aparcamento, empurrei mais um quilómetro por entre a centena de carros estacionados, enfim, larguei aquilo tudo na mala do meu, e voltei atrás para deixar o carro das compras no lugar certo.
Aprende, repeti alto e bom som. Aprende!
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