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J. E. Agualusa respondeu assim a uma pergunta de um miúdo de escola: “Escrevemos porque algo nos dói”. Quanto a mim, escrevo porque algo me dói. E por paixão, diz ainda o escritor. “Escrevemos para compreender o mundo”. Escrevo para compreender o mundo que me inclui e nos inclui.
Tento compreender e isso pode ser o trabalho de uma vida – o trabalho, a preocupação, a emoção… É tão difícil compreender seja o que for do mundo! Há sempre tantas perspectivas de entendimento, tantas possibilidades.
Escrever é uma forma de dizer o que penso sem maçar o interlocutor: ele pode desligar, pôr o livro de lado ou o jornal, o que for, e continuar alegremente a sua vida. Incólume. Ignorando-me. Não sabendo de todo o que ia dizer-lhe.
É essa a liberdade que dou a quem me ler: não tem de me ouvir.
Nesta ocasião, não tenho acesso aos meus livros habituais de referência, de modo que comprei há dias alguns novos e revistas como LER e Le Nouvel Observateur.
O computador está um caos e o telefone idem.
Como torci o tornozelo e devo ficar em repouso, tenho boas condições para olhar pela janela e desenhar o que vir no meu “One sketch a day”, a visual jornal, prenda de Natal da Alice.
Fiz logo de manhã o meu desenho de hoje que é para rir. E comecei a ler as novidades das revistas. Fiquei a saber muitas coisas importantes. Por exemplo, que a palavra do ano é selfie e o seu significado julgo ser uma fotografia que um tira a si próprio com o telemóvel e exibe nas redes sociais, mostrando partes generosas do seu corpo. Tem a ver com liberdade pessoal e, finalmente, embora tivesse antes encontrado a palavra em diversos contextos, não percebi muito bem. Tem a ver com “autorrepresentação básica”? (assinado BVA).
Li vários parágrafos de través e ficaram-me algumas ideias. Como a que assegura que a teoria do Big Bang era para dizer adeus, está a passar de moda. Esta teoria da pré-história da origem do universo, a última aparecida em Setembro passado, pode ver-se no site da Cornell University Library.
Não entro em quaisquer explicações porque é muito complicado para quem tem um entorse e não deve fazer esforços.
Li no entanto um texto de António Pedro Vasconcelos sobre a Maldição de Ondina, de António Cabrita, em que fala da “estonteante procura de uma palavra crivada de escamas” e da “exaltante tortura da escrita”. O talento de António Cabrita, no dizer de A.P.V., está na forma como descreve as relações entre homens e mulheres e nos “diálogos maduros carregados de ambiguidades e de feridas abertas”.
Para já, apreciei devidamente o ensaio crítico.
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