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Sou frequentadora muito irregular do consultório do dentista: vou apenas em último caso, o que me tem custado muito caro em termos qualitativos.
Tenho música de fundo, clássica, muito bem escolhida, tranquilizadora, no tom certo. E a decoração das salas é em belos verdes, a condizer com a música. E, além dessas coisas importantes, o médico é bom conversador e sabedor.
Decidi mudar de consultório...
Fui ontem, já noite, ao novo lugar, receosa, meio comprometida.
Comecei por estacionar o carro mesmo em frente num lugar proibido, claro está. Tinha levado um grosso volume que devo ler em poucos dias, mas tem sido quase impenetrável, com desgosto meu.
O que é certo é que não confiei no interesse das revistas que normalmente estão sobre as mesas nestes lugares e que teimam em nos informar exaustivamente sobre os namoros das vedetas e outras coisas do mesmo modo relevantes.
Achei no entanto que, dado o adiantado da hora, não ia ser necessário. E pousei o livro. Depois ao recordar a qualidade deprimente das revistas, peguei de novo no calhamaço.
E acabei por deixá-lo ficar no carro bem à vista, já que entendi que ninguém teria vontade de arrombar o carro para ler A Odisseia, de Homero.
O médico era uma jovem sorridente que não arriscou magoar-me e me anestesiou firmemente, trabalhando com gestos seguros e profissionais, apesar das muitas horas de cansaço.
E cantarolou todo o tempo em que esteve a tratar-me.
Apreciei o seu à-vontade, os seus conselhos, os seus projectos para mim, convincentes.
Não tenho dúvida de que vou passar com a necessária frequência, nos próximos tempos, por este local agradável q. b., com música artesanal e muitos sorrisos.
E agora afirmo como Lewis Carroll numa missiva a uma das meninas com quem se correspondia.
"Deixe-me ver. Era sobre isto que eu pretendia escrever-lhe? Não, não era; por isso, se faz favor, desleia tudo."
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