Demorei anos a descobrir o que queria fazer, o que me daria satisfação fazer. Tirei um curso superior de Comunicação Empresarial e durante algum tempo trabalhei em Lisboa nessa área. Quando o meu marido foi colocado em África, fui com ele, fiquei em Maputo e trabalhei como directora de marketing na Ford e na Mitsubishi.
Mas... eram muitos os quilómetros de distância entre nós, raramente nos víamos; decidi deixar aquelas empresas e ir para o norte, para junto dele, arriscando pelo menos a minha carreira profissional.
Entretanto, tinha reparado na beleza do tecido africano, a capulana, nos desenhos, nas cores exuberantes e na forma como as mulheres o utilizavam. Era muito mais do que pano para usar em todas as ocasiões e para os mais diversos fins: vestiam-no para a igreja quotidianamente tanto como para ocasiões solenes. E para transportar os filhos, para se abrigarem... Eram míticos. Vinham de muito longe no tempo e continuavam a ser fundamentais na vida dessas mulheres admiráveis: criados por elas, eram a sua riqueza.
Então tive a ideia de desenhar vestidos e outras peças que deveriam ser confeccionados a partir desse produto local e trabalhados por alfaiates da região onde me encontrava – uma das mais pobres de Moçambique. O meu acreditar nas suas aptidões e na oportunidade (que me foi oferecida ou que eu colhi) de realizar com eles um trabalho interessante e útil para a comunidade - é a minha concepção de solidariedade.
Investiguei, analisei e comecei a trabalhar. Criei a minha empresa que tem vindo a desenvolver-se e hoje emprego, entre outras pessoas, sete alfaiates que sabem trabalhar artesanalmente e se realizam e se orgulham do trabalho que fazem.
Vendemos em Moçambique, e também aqui em Portugal, para retalhistas peças únicas desenhadas a pensar no que valorizará a mulher moderna com as suas características de independência e de ambição. É a mulher que sabe o que quer, confia em si própria e conta com o apoio da família. Aprecia ser respeitada e destacar-se não apenas pelas suas qualidades mas pela forma como se apresenta.
A comercialização começou com um blogue onde explicava o que estava a fazer, mostrava a colecção, recebia a informação da escolha e as medidas da cliente, executava e enviava.
Estou muito feliz com o sucesso do empreendimento que satisfaz muito mais do que um proveito pessoal: é sobretudo um aproveitamento de capacidades e de potencialidades de uma região onde visivelmente se estavam a perder. Compreenda: eu podia mandar confeccionar na Índia, ficaria muito mais barato, mas perdia-se completamente o conceito.
Candidatei-me a um prémio nacional de empreendedorismo, o Start; por essa razão, estou em Lisboa, e para entrevistas e acções de divulgação. No momento, sinto-me responsável por um grupo de pessoas que dependem da qualidade do meu trabalho tanto quanto eu dependo da qualidade do delas.
Na próxima semana, volto para Tete, no Cuamba.
(Palavras que ouvi de Carla Pinto, convido-os a visitarem o site da sua empresa: www.ideiasametro.net )