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Eu era feliz nas ruas desta cidade. Sem arrumadores.
Durante alguns anos, o lugar foi muito melhor para viver que qualquer outro. ELES estavam a ser bem tratados noutro lado e as ruas eram primorosas. Circulava-se e estacionava-se livremente.
Acontece que, agora e não sei por quanto tempo, as mesmas ruas estão cheias de mandões: arrume aqui! Ponha acolá! Faça marcha atrás! Mais para a direita! Mais para a esquerda!
Eu fico a fumegar.
Detesto-os, não por outra razão, mas porque não gosto de ser mandada, sem mais. São repressivos, o que não é de admitir depois de todo o trabalho que tiveram os capitães simpáticos de Abril para nos libertar de espartilhos e de normas.
Apetece-me fazer tudo ao contrário, porque está em jogo, não a vida, mas a minha liberdade.
É certo que às vezes me corre mal. Como há dias. O meu carro estava estacionado, enviesado de frente para o passeio. E, ao meu lado, o da direita, só havia uma árvore acanhada de permeio, estacionado perfeitamente a direito, perpendicular ao passeio. Ao fazer marcha atrás para sair, raspei com o meu o outro carro que era grande, novo, negro e brilhante, e ficou tocado de pó branco numa extensão de um palmo.
Não houve qualquer ruído, apenas uma leve raspadela, um "deslizado silêncio", como diria Sophia.
O suficiente para que o caso me seja custoso, muito custoso ou caro, como é costume: não posso acreditar na realidade dos preços das oficinas de reparação de automóveis. São sempre inconvenientes e desproporcionados, mas que faço?
Da vez próxima (!), vou lembrar-me, não apenas de ter mais cuidado com direcções oblíquas como a da chuva e com rectas, diagonais e perpendiculares de modo que as tangentes não aconteçam, mas de dar valor aos arrumadores.
Afinal sempre podem realizar um trabalho útil, se quiserem.
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