O jornal O Tripeiro de Agosto de 2009 fala de Moledo, a praia de maior prestígio no Norte, desde há muitos anos. Traz artigos de Rui Moreira, de Sérgio Andrade, de Alberto Martins, de Manuel Correia Fernandes, de A. Alves Costa, de António-Pedro Vasconcelos, de Júlio Gago.
De que falam os que falam de Moledo?
Falam de terra refúgio, de praia de arquitectos e de artistas e de políticos e de imenso pequeno lugar convivial; falam de tempo, de lugar e de mistério – tudo em Moledo encoberto. Recordações e nostalgia, dias felizes, António Pedro e o seu sonho de novo teatro e de pintura surrealista. Lembram o pintor, dramaturgo, encenador revolucionário que, depois de vagabundear pelo mundo, escolheu Moledo, apaixonou-se, semeou por lá a sua poesia, ficou.
”Eu caibo aqui”, diz ele…, “a paisagem… entra-me pelos olhos… e enche-me a alma. Aqui os homens e as árvores têm raízes no chão.”
Eu também caibo aqui.
Quando chegava a Moledo vinda de onde fosse, inquieta, inquieta, até angustiada, sentava-me no relvado e ficava imóvel, voltada para entre nascente e sul, e daí a pouco, o milagre começava a acontecer. Rodeada de asas brancas, ali assentava até ao fim do dia em silêncio. Nunca apreciei a noite mesmo com muitas estrelas, (a menos que houvesse festa no clube), as noites foram sempre difíceis para mim. Mas pela manhã, mal o Sol nascia, eu esperava a pé que nascesse, caminhava no jardim levemente, apercebendo-me da alfazema e do alecrim, de outros odores como o das ameixas douradas e o das roxas, o perfume das amoras e das framboesas, o das maçãs ácidas que conhecia e apreciava hoje mais que ontem, à mistura com as pequenas gotas de luz pousadas nos ramos….
Apanhava os frutos doridos do chão, voltava à casa, dava-lhes outra vida.
A casa muito à minha medida, onde nada me era estranho e me não sentia estrangeira, onde recebia os amigos de forma simples… enfim, onde vivi os melhores momentos da minha juventude com a família.
E agora que estive na praia/aldeia minhota alguns dias com os netos, eles sem saudades mas com amores, fascinados como os os seus pais pelos encantos de Moledo, receio pensar que todo o tempo passado noutro lugar foi um total desperdício.
Há lugares em que mesmo no começo da gentil Primavera há uma beleza rústica e tocante.
Foi assim na Quinta minhota do Casal, há uma semana.
Alguns dos meus amores tinham acabado de nascer ali por perto.
Mais além, os cactos rejuvenesciam tranquilamente depois das geadas.
E, junto da Capela, as flores luminosas da magnólia como estrelas alegravam o Inverno sem folhagem.
Ontem, no mesmo lugar, havia mais algumas cores suaves.
É apenas o começo do mundo novo.
já não é hoje?
não é aquioje?
já foi ontem?
será amanhã?
já quandonde foi?
quandonde será?
eu queria um jazinho que fosse
aquijá
tuoge aquijá.
(poema JÁ de Alexandre O'Neill)
Acabei de colar num vidro da minha estante um pequeno cartaz com imagens coloridas, reprodução de pinturas propositadamente ingénuas, de amores perfeitos (refiro-me às flores).
No alto como título em letras maiores, aparece a palavra
CULTIVEZ
Seguem-se as imagens, doze, de diferentes amores, cores e formas diferenciadas, posições várias, talvez haja alguma relação com as legendas.
Depois das imagens, no fundo do cartaz, aparece no mesmo tipo, tamanho e grossura das letras do título
LES PENSÉES POSITIVES
Reproduzo as legendas traduzidas de cada amor e que talvez precisemos todos de fixar:
abra o seu coração, partilhe, aproveite cada instante,
sorria interiormente,
aceite a mudança, estime-se, confie em si, recue, tenha compaixão, agradeça, confie na vida, seja alegre.