Paris é uma festa é um título de Hemingway em que conta impressões da sua vida nessa cidade nos anos 20 do século XX.
Paris sempre foi uma festa para mim.
De maneira geral, ia na Primavera, lá vão muitos anos, e percorria a pé as ruas e as avenidas minhas conhecidas e preferidas. Detinha-me um pouco nos jardins, admirando a luz por entre os arbustos, observava a água das fontes e dos tanques, atravessava as pontes num sentido e no outro, passava os cais... Caminhava durante horas, até não poder mais de cansaço, mas estava sempre feliz.
Acho que conhecia cada árvore de certas avenidas, era principalmente o encontro periódico com elas o que festejava. Notava as diferenças e fixava a cor, para comparação, das jovens folhas verde-claro, transparentes, frágeis, recém-nascidas. Tinham um perfume suave, novo, que me encantava.
E era um encontro afortunado com pessoas interessantes e comunicativas e com acontecimentos e lugares de acaso ou procurados como as exposições de arte e os concertos, as bibliotecas e os museus, como se tudo fosse diferente de cada vez. E era diferente.
A festa nesses anos era Paris. Provavelmente não tanto para mim como para Hemingway que levava uma vida solta nesse seu princípio de carreira prometedora, confiante no valor da aprendizagem e da formação que adquiria na cidade cosmopolita em encontros com outros escritores e artistas. O seu talento para a criação literária só podia ser favorecido pela vida rebelde que descreve depois com naturalidade e sem grandes ilusões.
Lembrei-me do grande escritor, do seu e meu amor por Paris e da sua ideia da cidade como festa móvel, depois de ter visto a referência de Laurinda Alves a Nassim Taleb que aconselha a não ouvir notícias mas a ir a festas, o que no momento se compreende e é muito apropriado: tudo o que necessitamos é de gente criativa desejosa de desenvolver o seu talento.