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Sonhei com a Primavera

por Zilda Cardoso, em 18.03.17

 

 

Era meado de Março, a temperatura alta para aquela hora da tarde…

A folhagem do chão que, no fim do Verão estalava sob a rudeza dos meus pés ou rugia mesmo, mais tarde… apenas um murmúrio me permitia escutar, se com atenção, o que dizia. E o que dizia, não parecia importante: eram coisas destinadas a serem esquecidas.

Quando chegou a chuva e o Inverno, as folhas... nem essa música terão cumprido, mas uma melodia lânguida e sem graça nem calor.

(Verdadeiramente, neste momento, as folhas do chão já não existem, terão morrido de todo, destruídas pela tempestade… varridas pelo vento).

É com a Primavera a chegar que se vai fazendo silêncio às minhas passadas. Ainda há pouco, naquele intervalo entre o Inverno e a Primavera, experimentava bocadinhos de silêncio, entremeados de silêncio.

E eu gosto e também não gosto! Gosto aqui, não gosto em casa em que, sem ruído, tudo se torna maior - mais espaçoso, branco e limpo e medonho. E só ecos.

Olho para o alto, para as árvores e vejo que folhas jovens e frágeis e quase transparentes, verde-claro, espiam, não sabem o que pensar, estão prestes a romper. Há uns orifícios apropriados, por onde elas vão desaparecer e aparecer quando já não temerem abertamente as noites frias. Assim mesmo, ficam aí por muito tempo, em crescimento, em movimento antes de caírem. Entretanto, cobrirão a árvore, vão vesti-la, refrescá-la, viver com ela.

Aprecio-as, com estas primeiras folhas tímidas, as folhas que ainda se não fazem ouvir porque não conhecem senão o mutismo da longa permanência no interior da mãe, dos ramos quase secos da mãe, antes de levantarem o queixo e se considerarem marcantes, valiosas e sábias. É assim neste antes, que eu as estimo e admiro, frágeis e cheias de desejos de ser, de viver e de dançar. Não carecem de falar, felizmente.

São mais uma nova geração com todas as suas dificuldades e relevâncias.

Nos canteiros, ainda não há flores. Costuma haver, embaladas com os tais fragmentos e sementes antigas, com terra revolvida, e tudo isso que as faz desabrochar. Mas é cedo.

Reparando bem, há algumas miúdas brancas e outras amarelas por ali, muito bem-dispostas e risonhas e frescas, viradas para o sol, são minúsculos girassóis.  

E eu continuo a caminhar.

Há-de chegar a Primavera.

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publicado às 11:18


5 comentários

De Maria João Brito de Sousa a 20.03.2017 às 10:55

Há-de chegar a Primavera, Zilda!

Abraço.

De Zilda Cardoso a 21.03.2017 às 08:34

É um prazer e um privilégio ter o seu comentário! Significa sempre muito em si e para mim.
Chegará a Primavera, pois. Chega sempre, pelo menos, no nosso desejo.
Obg.

De Maria João Brito de Sousa a 21.03.2017 às 09:00

Um abraço do fundo deste meu restinho da força anímica que se me vai (con)sumindo na extrema dureza do dia-a-dia.

De Zilda Cardoso a 21.03.2017 às 15:58

Desejo-lhe o MELHOR, minha Amiga!

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