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As pessoas casavam-se. Desde há séculos, pelo que sei, isso tem vindo a acontecer e a ser festejado como alguma coisa de importância transcendente nas nossas vidas e nas nossas sociedades.
No presente, não se casam, experimentam. 0s casamentos são experiências, género, vamos ver o que dá. Como num laboratório, o resultado pode ser o esperado ou antes o desejado ou ser surpresa, dependendo mais das mentalidades e das espectativas do que das circunstâncias.
É justo pensar que vamos ver o que dá, significa que não se espera de mais, há muito poucas surpresas. Por isso, ninguém sofre, entendendo-se que se está preparado para o que vier, seja o que for.
Supõe um acontecimento que não é relevante já que, no dia seguinte, pode ser corrigido, alterado, transformado de modo a podermos voltar ao princípio em qualquer momento. Com outra pessoa. Noutro casamento. Pode resolver-se de ânimo leve, é sempre aceitável.
Em qualquer circunstância, o casamento nos nossos dias, esvaziado de outros conteúdos, assenta ainda no amor romântico que, todos sabem, não suporta grande proximidade e frequência de convívio. Mas… há uma esperança de que desta vez e agora se vai prolongar pela vida fora (a estabilidade parecia importante). A esperança não tem que ser realista!
É apenas esperança sem razão de ser. Por tal, daí a pouco podem estar separados e… é melhor assim. Entende-se que é melhor assim no melhor dos mundos. Porque todos têm o direito de ser felizes.
Cada um procurará noutro lugar, noutra pessoa o que passou a faltar-lhe, o que já não existe com esta pessoa. Mas podemos levar-lhes a mal? Alguém sai magoado? Todos têm o direito de ser felizes!?
Falo dos cônjuges. E as crianças… se as houver? Não se passa nada com elas? Pergunto o que tem isto a ver com casamento?
Será ocasião de definirmos de que se trata afinal; de que estou eu a falar.
Continuam a efectuar-se cada vez mais casamentos, já que cada pessoa em busca do amor ideal, realizará vários na sua vida. A importância é dada à festa, naturalmente, à boda, ao vestido branco, às rendas, às flores, a tudo aquilo em que se pode gastar muito dinheiro. Porque a ocasião é única ou/e porque é preciso gastar numa sociedade de consumo. Não é verdade?
O chamado casamento actualmente, será uma apropriação do nome cujo conteúdo apenas vagamente lembrará o casamento tradicional. (É aceitável que os significados ou os conteúdos das palavras se alterem como tudo afinal, por isso, até ver, continuaremos a usar a mesma palavra).
Até há pouco as pessoas casavam-se para não ficarem sós e porque se impunha constituir uma família, ter filhos portanto. Tentava-se criar um vínculo que seria reconhecido socialmente e pela religião talvez e pelo Estado, criava-se um compromisso, celebrava-se um contrato. Os cônjuges comprometiam-se, todos os membros futuros da família ficavam comprometidos desde logo.
A família, como unidade básica da sociedade e sua célula vital, era importante e ter filhos e criar uma estrutura de suporte, inclusivamente económica, para ela, para a família, parecia ser a obrigação de cada um.
Cada membro tinha, portanto, direitos e obrigações. Os pais deviam educar os filhos preparando-os para viverem em sociedade tal como ela era ou viria a ser num futuro próximo, dando-lhes noções de bem e de verdade; ensinando-os a amar e a serem dignos, instruindo-os nas responsabilidades sociais e na solidariedade; pensando no seu desenvolvimento saudável físico e mental e social. Valores familiares que deviam orientar a vida de todos.
Não vou falar nas obrigações dos filhos nem para com os pais nem para com os pais dos pais. Não vou falar das obrigações de cada um e de qualquer membro da família entendida como estrutura, para com um e qualquer dos outros. Não vou falar disso.
Estava a reflectir sobre casamento, quase me perdi com a ideia de família que para mim continua a ligar-se absolutamente a casamento, e tentando perceber o que acontece no presente.
Interrogo-me sobre até que ponto o casamento actual com toda a liberdade e desenvoltura que supõe – quase ausência de vínculos – é prejudicial a uma boa parte dos seus membros especialmente às crianças que se considerava dependentes dos pais incluindo economicamente para o desenvolvimento de capacidades mentais, sociais, físicas, emocionais.
Como se sentirão eles?
Depende de como estão preparados, sem dúvida. Mas podem ser preparados?
Ouvi um dia destes a personagem de um filme americano afirmar sobre casamento que talvez a solução, provisória como todas, seja o casamento tradicional com um toque pessoal. Talvez o toque pessoal – a descobrir por cada um - passe a ser o importante.
Talvez.
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