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REFLEXÕES apropriadas à manhã portuense

por Zilda Cardoso, em 09.08.14

 

Esta é a manhã imprecisa e murcha, como tantas. Pensara ser Agosto e Verão, mas devo ter-me enganado ou o calendário envelheceu: não funciona como antes, com a mesma agudeza.

Quando um vislumbre de sol iluminou o lugar por um momento, no seguimento dele, esperei uma alteração no mundo… que não ocorreu. Talvez se proclamar bem alto isto, ainda possa acontecer, a tempo.

 

Será que procuro afinal um sítio para viver? Este é um espaço como qualquer outro, vejo um barco deslizar suavemente num mar de nevoeiro e um grande pássaro escuro rumar para nordeste, sem pressa. Ouço o silêncio que é quase absoluto.

 

Mas não quero viver aqui assim. E, no entanto, é esta a realidade-do-mundo do lugar. Por que haveria de querer viver num outro agradável, belo, confortável, cor-de-rosa ou de salmão, verde… eu sei lá? Por que quereria…?

 

Talvez possa fazer deste lugar o que desejo!? Ver para além do que os olhos vêem, sentir a profundidade destes objectos. Eles hão-de ter um interior, acredito que seja estimulante descobri-lo apesar do cinzento total que os envolve e que é também silêncio. E da mesma cor. E que pode permanecer silêncio ou cinzento, seja o que for que ocorra.

 

Aceito que a vida é um carrossel: subo, desço, sempre à roda sem parar, presa a um eixo ou centro… Até que pare por avaria mecânica ou por estar assim programada. No fundo, que importância tem? Não tem importância.

 

Às vezes, em conversa, surpreendo-me ao dizer inesperadamente coisas que não costumo dizer. E que parecem tão relevantes que hão-de fascinar os ouvintes. É um sobressalto para todos! Porém, ao dar conta disso, volto pausadamente ao meu dizer habitual e trivial. As pessoas/ouvintes sossegam; por momentos, pensaram que era alguém que mereceria reverência, que maçada. Felizmente, logo visto o meu rosto de vulgar, de trazer por casa, e tudo volta ao normal de palavras incertas.

 

Nunca digo o que queria e me vem ao pensamento. As palavras não ajudam: são dissimuladas, nunca traduzem correctamente o que me vai na alma… São toscas, ambíguas, têm todas as culpas. E penso que não vale a pena: o outro nunca quer ouvir. E o que pensava que podia ser interessante não chega sequer a ser dito. O meu verdadeiro eu… ninguém conhece. E, nesta ordem de ideias, eu também me não conheço nem distingo o que é real do que não é. E pronto.

 

O que me tem permitido sobreviver a todas as crises é uma imensa consideração por mim própria. Que me leva a julgar os outros, iguais, merecedores da maior consideração.

 

E não, nunca estou só: estou comigo. Por vezes, basta-me. Outras vezes, procuro companhia alhures. Até que me farte e volte para mim. E então sim, me divirto com intolerável discernimento.

 

 

 

 

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publicado às 18:16





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