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O que vejo da minha janela é uma vastidão, dizem.
É, com certeza, uma quantidade extensíssima de água – um lago – rodeado por qualquer coisa que a retém e que não tento descobrir. Não sei se é uma vastidão.
O que não deixa a água transbordar são os seus limites a toda a volta, longínquos dos lados, próximos na minha frente. E, por cima, sem lhe tocar, um céu que me parece imenso repete as suas cores. Ou é o lago que duplica as cores do céu.
Há muitas realidades que ainda não conheço. Acho que pode ter um milhão de pétalas de peónias cor de coral dissolvidas e outras cores do arco-íris que nem sequer presumo de onde ou como lhe vêm. Ao lago. E brilhos. Sempre lhe vejo brilhos mesmo quando não há sol.
Acho que Deus confecciona estas mesclas e combinações há tantos anos que as faz cada vez melhor.
O lago ou o que seja está tranquilo com um ligeiríssimo ondeado apenas, que lhe dá um tom mais carregado aqui e ali, às riscas em diagonal, e só contra as rochas se transforma em espuma de renda branca e finíssima, a terminar.
Em certas ocasiões, avisto barcos mas são pequenos e não chegam a obstruir coisa nenhuma que eu queira ver. E as gaivotas passam rapidamente de modo que, com grande pena minha, nem participam desta cena. Eu gostaria de convidar mais gaivotas a galhofar por ali.
Algum dia, saio da janela e vou passear e vejo o mar entre os ramos retorcidos das árvores toscas da Avenida. Ou aproximo-me mais, piso a areia grossa e picante pelas conchas partidas dos mexilhões e das ameijoas...
Quando o céu já não é colorido mas negro, e tudo o mais é negro, o que acontece ao fim de qualquer dia, mesmo que haja luar, descanso de contemplar e de descobrir. Por vezes, bastante mais tarde, dou conta do luar muito luzente e levanto-me e vou espreitar. Fico tranquila, tenho ficado sempre tranquila.
Porque ininterruptamente tem acontecido deste modo, desde que me conheço, sei que tudo aquilo que descobri hoje estará lá de manhã, amanhã, para mim com variantes de cores e de movimentos - outras misturas, outras tonturas talvez
Mas reconheço que… pode não ser assim.
Para dizer a verdade, isto preocupa-me: que farei se um dia não amanhecer?
HOJE É INVERNO E HÁ LUAR!
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