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Pensar o pensamento

por Zilda Cardoso, em 17.08.14

 

 

 

Hoje, ao fim da manhã, tinha construído um belo pensamento lógico tão invulgar como a Catedral de Gaudi em Barcelona (que não queria ver acabada), mais fulgurante que a igreja do Marco do meu amigo Álvaro Siza; tão elegante e límpido e simples como alguns dos seus edifícios algures no mundo.

Surgiu-me combinado com a 9ª de Beethoven ou coisa assim, e tinha a forma de um poema de Camões.

Apreciei tudo isso.

Era um pensamento poético e brandamente filosófico cuja lógica, não excessivamente transcendente, mas transparente, parecia de valor fundamental. E que a humanidade devia conhecer para seu bem.

Porque se tratava de compreender intransitivamente, de saber a razão, o como, donde e para onde vou, o que faço aqui… essas coisas.

Aquele pensamento… precisava registá-lo, mesmo inquietante e de fácil incessante possível sumiço, ou por isso mesmo, necessitava transmiti-lo, não queria que fosse brilhante e inútil.

Sentei-me para o escrever numa qualquer folha de papel. Ou no computador.

Aí brotou um obstáculo imenso: “escureceu-se-me o engenho”, poderia ter dito o Poeta, não conseguia pô-lo em palavras. Era irrepreensível esteticamente, observara-o de todos os ângulos e pareceu-me perfeito… enquanto esteve inteirinho na minha mente.

Apesar do ruído e do movimento em redor e dentro da cabeça, e no coração que parecia trepidar, aquele pensamento existia para mim há dias e estava com uma pujança tal que não era pensável que alguma dissonância pudesse arrebatar-lhe o valor.

Eu tinha conseguido raciocinar bem até que aquela ideia, como uma bomba, deflagrou. O meu pensamento brilhante foi literalmente esmagado. Ou, pelo menos, reduzido a fragmentos que se espalharam em todas as direcções.

Comecei a apanhá-los um a um, a juntá-los num lugar em que fizeram um volume considerável, mas… sem sentido. O que perdi, o que deixei escapar, foi a lógica. Como podia não perder? Apenas tinha fragmentos sem nexo!

Enfim não passou de um projecto (poderei dizer fantasioso ou metafórico ou o quê?) o que eu julgava ser um edifício com optimos alicerces, belos interiores, jardins estabelecidos; supostamente rico de referências, um dos que seria uma perda atordoadora perder-se.

O que me caiu, o que caiu sobre mim… foi a ideia de que é feito de intuições (anteriores aos pre-socráticos, como parece sugerir G. Steiner) e não pode ser dito. E quando insisti em querer gravá-lo, escrevê-lo… escapou-se. Explodiu.

É feito de intuições, sem dúvida, e como se difundem intuições? Não conheço linguagem em que as formule e as comunique, é isso, não conheço linguagem apropriada ao entendimento dos outros. Terei eu própria percebido?

Haverá maneira de ser entendido sem palavras?

Senti que me consumo. Que valor terá um pensamento que não pode ser dito, dançado, musicado, pintado, fotografado…?

É minha ambição conhecer urgentemente a linguagem de uma dessas artes; talvez, quem sabe, ele possa afinal nela ser expresso ou declarado.

Porém, o meu maior desejo é não precisar de linguagem alguma (para comunicar intuições).

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publicado às 21:12


2 comentários

De Vicente a 19.08.2014 às 00:42

Vou confessar que: Eu sou uma chata às vezes, falo sem parar, brigo sem motivos, e grito por qualquer coisa. Incomodo quem eu não gosto. Julgo pessoas por julgarem as outras. Durmo de bruço. Tem horas que sou infantil. Odeio estar errada. Acho muito feio pedir desculpas. Odeio a rotina um pouco mais que pentear os cabelos. Ronco a noite. Digo que tenho 14 anos, quando, na verdade, eu tenho 16. Eu fofoco. Odeio cozinhar. Não obedeço meus pais nem tenho um bom relacionamento com eles. Areo panelas, que ficam parecendo espelhos. Sinto saudades dos bons momentos que vivi com os meus melhores amigos. Odeio fanáticos religiosos. Odeio gente sem opinião. Minto e muito. Falo palavrões mais que o normal. Eu também já fui infiel. Sempre durmo depois das 23:00. Às vezes o ego me cega. Não sei preparar café. Fico horas no telefone. Peço pra sair com aquele gatinho que me interessou. E gosto de atenção o tempo todo. Faço as coisas bem feitas pra ganhar elogios. Eu sou pervertida. Canto mal e desafinada, e sei disso. Odeio Física e Química. Choro pelo menos uma vez no mês, principalmente quando ta frio. Nunca fui santa. Nem sou virgem. Falo errado por simples preguiça de falar certo. Me mostro forte, mas na verdade sou muito mais fraca do que se vê. Às vezes não tomo uma decisão com medo de não ter ninguém pra me ajudar se eu fracassar. É, eu também ensaio reclamações. Eu não presto a atenção naquilo que eu não gosto, sobretudo nas aulas de matemática. Odeio aquelas menininhas boazinhas, patricinhas e cheia de frescuras. Vivo magoando quem me ama, e me preocupando com quem não quer saber de mim. Tem dias que quero falar mal dos outros, falo, e falo muito. Sinto vergonha de contar erros da minha vida. E escondo milhões de segredos. Odeio ser criticada. Tem momentos que me acho superior. Às vezes me acho burra, feia, e idiota. Sempre dou conselhos e resolvo os problemas dos outros, enquanto os meus só aumentam.

Até aqui, eu te disse coisas sobre mim, pensamentos e sentimentos,

Confesso que vivo escrevendo sobre mim, mas sempre sei que no final ninguém vai me entender, porque eu sou incompreensível.

Cris fox

De Zilda Cardoso a 19.08.2014 às 08:02

Muito divertido.
..."ninguém vai me entender", pois.

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