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É obra de um Deus Maior… que o engendrou à sua imagem e semelhança, dizem. Eu proponho considerarmos que o criou à sua medida, não é o mesmo.
Porém, as suas criaturas, nós, estamos longe e abaixo dessa medida.
Apenas povoamos (usamos) a obra criada. De forma, incrivelmente inferior à grandiosidade dela.
Por isso, não entendemos. Nada nos é acessível por muito que analisemos, investiguemos, procuremos com cuidado extremo.
Restamos ignorantes. Provavelmente nunca em tempo algum teremos a certeza de saber.
Não chegaremos à verdade.
A menos que Ele queira.
Tudo o que julgamos saber está errado, chego a esta conclusão.
Porém, nenhuma conclusão é fiável (pode alguma coisa não estar errado).
A verdade não tem nada a ver connosco, é de outra espécie. Desconhecida. Somos infinitamente incertos, estamos em permanente evolução e, por isso, em nenhum momento somos.
Que podemos saber de bom e de mau, de feio e de bonito, de quente e de frio? Como podemos saber se algo está bem ou mal concebido? No entanto, queremos ser semelhantes Àquele que nos criou, isto é, perfeitos. Queremos saber perfeitamente.
Nada disto faz sentido. Ou talvez seja bom assim.
O mais próximo da atitude correcta parece-nos ser considerarmo-nos todos maus (com todos os significados e sentidos possíveis), seja qual for o ângulo de observação.
Há uma ideia do Mundo Antigo que me impressiona ainda. É que não passamos de escravos, ignorantes, miseráveis e pó a que seremos reduzidos em devida altura, logo que haja oportunidade. E tudo o que andamos a tentar realizar durante a vida, e a lutar por…, não vale nada. Basta um ligeiro toque no ponto onde Ele sabe e nós não, e tudo se desmorona.
Fá-lo-á por divertimento, não acredito que seja por vingança, como já ouvi.
Não uso ser pessimista, vejo e não me exalto, procuro racionalizar. Atrevo-me a pensar que vivemos não à imagem Dele mas à nossa, seja isso o que for. E não precisamos de, porque não podemos tê-los, resultados transcendentes como construir novos e aliciantes mundos contemporâneos. Cheios até à medula de inteligências artificiais loucas.
Precisamos que a semente que lançamos à terra dê o cereal louro com que confecionaremos o pão. De preferência sem glúten. E que reduzido a pó e amassado com água como barro e com uns pozinhos de perlimpimpim nos dará a massa por de mais manuseada que meteremos no forno em pequenas doses. E que rescenderá.
Sai sempre bem, desde que não nos descuidemos. Depende de nós, nesta fase, a este nosso nível. Alimenta-nos a nosso gosto e mais ou menos sal. Então oferecemos àqueles amigos que não tenham ainda descoberto como sobreviver.
Ficamos felizes.
E um dia surge uma extraordinária poeta/poetisa (Sophia) que afirma:
“Ausentes são os deuses mas presidem!”*
Terá razão.
*(pag. 244 de Antologia, Moraes, Ed., Lisboa 1975).
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