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Karl Popper escreveu um ensaio - A responsabilidade moral do cientista - , apresentado numa sessão especial no Congresso Internacional de Filosofia realizado em Viena em 1968. Dele retiro um mínimo trecho que podia ter sido escrito hoje com uma alteração, uma palavra apenas.
“Evitar a guerra é hoje, diria que por consenso geral, o problema dominante da política pública. Não existem dúvidas na minha mente de que todos nós, quer sejamos cientistas, académicos, cidadãos ou meros seres humanos, deveríamos fazer tudo ao nosso alcance para ajudar a acabar com a guerra. Faz parte deste esforço o nosso dever de tornar o significado da guerra claro para toda a gente, não apenas em termos de morte e destruição, mas também em termos de degradação moral.
Neste contexto, deve afirmar-se claramente que um dos aspectos mais perturbadores dos acontecimentos recentes é o culto da violência. Todos sabemos que um dos aspectos mais hediondos da nossa indústria de entretenimento é a propaganda constante da violência, desde os westerns alegadamente inofensivos e as histórias policiais até às demonstrações de crueldade pura e simples. É trágico verificar que esta propaganda surtiu os seus efeitos até em artistas e cientistas genuínos e, infelizmente, também nos nossos alunos (como o demonstra o culto da violência revolucionária).
É todavia convicção minha de que nem a primeira nem a segunda guerra mundial nem a corrente tragédia do Vietname se podem explicar em termos de agressividade humana. Pelo menos nos dias de hoje, o perigo principal da guerra vem da necessidade de resistir à agressão e do medo da agressão. Estes factores combinados com a confusão mental e a falta de flexibilidade intelectual, e talvez com a megalomania tendem a tornar-se as principais fontes de perigo em presença dos enormes meios de destruição que se encontram ao nosso dispor.”
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