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O cinema de Manoel de Oliveira assemelha-se para mim, no que diz respeito ao prazer que me dá, a um volumoso romance da chamada grande literatura.
Não posso lê-lo de seguida porque é terrivelmente entediante. Leio-o e vou avançando apressadamente, passo sem ler frases, capítulos e mesmo páginas. Interessa-me a intriga e não as grandes e detalhadas descrições de ambientes e de personagens.
Todavia, tenho grande prazer em lê-lo, desse modo. Nada me pode impedir.
No cinema de M de O não posso agir assim, como gostaria, não posso sair e voltar a entrar na sala, até porque não saberia quando entrar e recomeçar, qual o momento conveniente para isso, sem alterar o meu prazer, o da leitura e o da visão, seja, o conjunto das imagens e das cenas.
(imagem da internet)
Tenho pena. Porque acredito como Barthes que há romances clássicos de que só se tira prazer lendo-os dessa forma sincopada. O mesmo acontecerá com o cinema de M de O.
Aqui é tudo deslumbrante, tocante, harmonioso, belo… até se não poder suportar mais. Assim, depressa chego ao meu limite, saio da sala, fujo para me não zangar com o estilo do autor que admiro.
Não me importo se já conheço o fim ou de não ver o fim da história, mas não terei esse prazer, porque, arrasada com tanta beleza, ao suspender a minha assistência ao filme, é perturbação muito particular que sentirei. Vou aproximar-me da fruição ou do que Barthes assim chamava?
De qualquer modo, saio da sala transgredindo, sem medo de estar a ofender quem quer que seja com a minha saída, aparentemente não comungando com a ideia manifesta da alta qualidade da sua arte.
Não é verdade.
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