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O cérebro

por Zilda Cardoso, em 22.05.17

À medida que nos desiludimos com as descobertas da ciência em geral, com os seus usos e aproveitamentos duvidosos e mesmo desastrosos, fascinámo-nos com a biologia e em particular com o estudo do cérebro - com a neurociência.

Estarei a misturar disciplinas diferentes, talvez. Na verdade, o que me interessa especificamente é o estudo do cérebro humano. Não é conhecido nenhum outro cérebro animal tão complexo; e dele parece depender senão o UNIVERSO pelo menos TUDO.

Por isso, desde há muitos anos que confesso a minha triste ignorância quanto às razões por que a enormíssima maioria das pessoas passa, de forma manifesta, a maioria do seu tempo, analisando, discutindo os mínimos gestos das estrelas/celebridades e os seus gigantescos e insolúveis problemas, não em termos de tentar resolver seja o que for mas de passar tempo e de gozar, puro gossip, e não procura entender os problemas do sistema nervoso humano de que o cérebro é o ponto central e de que todas as soluções dependem.

De que todas as decisões dependem.

Resulta daí uma monumental gravíssima perda colectiva.

Tento diminuir(!), neste momento, a importância dessa perda, estudando serenamente o sistema nervoso como responsável pelo ajuste do meu organismo ao que me rodeia.

“A sua função é perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do corpo e elaborar respostas que se adaptem a essas condições”, na sabedoria da internet...

A unidade básica do sistema nervoso é a célula nervosa ou neurónio que estabelece conexões com outros neurónios, originando reacções em cadeia. O neurónio é a célula extremamente estimulável  capaz de perceber as mínimas variações que ocorrem em torno de si, reagindo com uma espécie de alteração electrica. Essa alteração é um impulso nervoso.

É interessante saber que se considera que os seres humanos nascem com o cérebro inacabado. Enquanto outros animais nascem programados para sobreviver com independência apenas algumas horas ou dias após o nascimento, e de repetir os gestos e comportamentos dos seus pais para o resto das suas vidas. No seu programa, está tudo: para eles, não é necessária nenhuma aprendizagem específica.

O cérebro inacabado dos seres humanos não lhes permite sobreviver sem ajuda aquando do nascimento. Têm algumas simples capacidades e não instintos nem comportamentos preprogramados.

Há vantagens e desvantagens nisso. O pensamento que me ocorre é que todos os animais são acarinhados à nascença com programas convenientes de adaptação do seu cérebro ao ambiente que os rodeia, que é suposto rodeá-los, todos excepto os humanos. Que são abandonados em ambientes a que têm que se adaptar pelo seu esforço e inteligência. E que modificam segundo os seus desejos e necessidades, aumentando desse modo a própria inteligência. É o seu trabalho, a sua justificação de existência ou alibi, a sua superioridade: é o que lhes tem permitido as realizações materiais de que se orgulham. E de que sofrem as consequências. E as outras.

Poderei dizer que uma vida, qualquer vida humana, é para estes sobretudo de sacrifício e de sofrimento. E é o que os leva a sonhar com outra vida para além desta, noutro lugar, onde tudo é bom, belo e risonho: e que nunca acabará, um paraíso sem fim - a parte espiritual da existência. Ou mística?

Tenho muito que estudar acerca do comportamento e da função do cérebro. É apaixonante!

Em imagens do livro The Brain, de David Eagleman que estou a seguir, posso comparar os neurónios de um ser humano recém-nascido com os de um ser humano de 1 mês, os de um de 9 meses, um de 2 anos e os de um adulto.

Na primeira imagem, os neurónios estão quase soltos, há poucas conecções entre eles. Porém, aos 2 anos e depois, as células aparecem incrivelmente conectadas, cresceram as ramificações. Na idade adulta, as coneccções são menos e mais fortes.

Os humanos são altamente influenciados pelo meio em que vivem e influenciam-no. Daí as nossas descobertas, invenções, construções. Daí também que se considere o seu cérebro permanentemente inacabado: sabemos que  vamos continuar a tomar decisões e a acrescentar detalhes ao sistema, enquanto vivermos. Viver é experimentar; logo, é acrescentar, isto é, construir sonhos e memórias, pensamentos e imaginação, também. Permitimos que o exterior nos molde e esforçarmo-nos por o moldar de acordo com desejos e necessidades difíceis de determinar.

Faz sentido que continuemos nestas complicadas funções enquanto vivermos, que nos esforcemos por isso. Viver para os humanos, nunca foi outra coisa.

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publicado às 21:29


4 comentários

De Maria João Brito de Sousa a 24.05.2017 às 21:59

Concordo, Zilda! Viver, para nós, nunca foi outra coisa.

Abraço!

De Zilda Cardoso a 25.05.2017 às 14:56

Como está, Poeta? Há muito tempo que não leio nada seu,
É bom saber que está de acordo com o que escrevi.
Estou num período particularmente difícil por questões de saúde e outras. Como grande jogadora de futebol envolvi-me numa queda desastrosa e sofro as consequências. Vai passar, mas a perspectiva é de 3 meses "sem jogar".
Mas tal como digo no meu texto e tão bem compreendeu, viver nunca foi outra coisas para os humanos senão pensar, sonhar, construir, regozijarmo-nos e sofrer.
Vamos continuar, não é Maria João?
ZM

De Maria João Brito de Sousa a 12.06.2017 às 08:56

Sempre, Zilda!

(também eu estou nos meus humanos limites...)

De Zilda Cardoso a 12.06.2017 às 15:12

Ninguém sabe quais são os humanos limites de alguém. Nem os seus próprios. É por isso que vamos lutando, não é?
Um abraço
ZM

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