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Quando fui à varanda de manhã cedo e não vi o mar, fiquei surpreendida. Como…? Surpreendida?! Apreensiva! Na realidade, fiquei em pânico!
Desta vez, era grave. O mar simplesmente não estava lá! Tão pouco, o céu, de manhãzinha, ao alvorecer…
Alguém os ocultou? Preparou uma emboscada…Que estranho jogo! Alguém escondido ou disfarçado espera ainda ali quem, o quê? Foi a medo que pensei: quem é aguardado será acometido?
Olho frente a frente para aquele lugar e… não aceito. A alguns metros de mim, aquela espessura sem cores, sem formas cobrindo tudo…
Não estou a ver seja o que for para além dela. Mas é meu o erro.
Depois de algum tempo de rigorosa observação, convenço-me.
O mundo é outro, hoje. O que posso ver da minha varanda, o que transparece da cidade, é radicalmente diferente do que é habitual ver. Na sua extensão e no seu amontoado, os edifícios que me são próximos estão lá presos à terra, seguros pela vontade e pelo engenho dos homens e dos materiais que descobriram e usam.
Quanto ao mar… meu Deus… o mar tem o hábito de estar solto, movimenta-se à vontade, faz o que quer, é-lhe fácil sair do seu lugar e invadir o espaço dos outros. Ou passar para outro lado, abandonar amigos e admiradores. Fazer outras delícias. De outros.
Naturalmente, levou os peixes consigo, os dourados e talvez também os vermelhos. E os fulgores, as cintilações, os risos, os estremecimentos. Levou o horizonte do infinito.
Reparo que não luzem barcos, não há praia de areia dourada nem as rochas que, no entanto, estiveram aqui milhões de anos.
Volto a espiar: nada transparece porque nada há para além daquela camada baça, silenciosa e rabugenta.
Nem o céu se vê. Nada no Paraíso a Leste.
Mesmo que o céu esteja lá e o mar… mesmo que estejam lá… é o mesmo. Não me afectam porque não os sinto.
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