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Modernismo da Europa de Leste

por Zilda Cardoso, em 19.04.15

DSC02349.JPG

Pela primeira vez, senti que havia diálogo entre uma exposição e a arquitectura do lugar onde se realiza.

Monica Sosnowska, artista polaca, escultora que concebe o seu trabalho como aquilo a que se chamou “arquitetonização”, quer dizer, partilha de elementos formais entre arquitectura e escultura, tem uma exposição em Serralves muito interessante e curiosa para mim.

As peças que estão no átrio, nas galerias do Museu e no exterior são trabalhos realizados entre 2003 e 2015 e reconciliaram-me com a arte contemporânea de que tenho andado arredada por não pretender participar naquilo para que não quero sequer olhar. Nem ouvir.

Diz-se no prospecto do Museu: ”Concebida em diálogo com a arquitectura do Museu de Serralves desenhado por Álvaro Siza , a exposição revela o percurso de uma artista que pensa a  escultura não só como objecto físico mas também em termos de espaço, tempo e memória.”

O espaço habitual de exposições do Museu está outro porque além das esculturas independentes, há formas suspensas e formas pendentes com efeitos espectaculares sendo simples, como a escadaria retorcida que domina todo o espaço da Galeria 1. Liga-se ao tecto e liga-se ao chão e é uma intervenção escultórica barroca de grande beleza e leveza.

Os materiais que usa e a sua forma de os transformar, o processo criativo, enfim, despertaram a minha atenção. Sei que, por vezes, faz uma pequena maquete de papel, coisas de brincar, e depois os técnicos com quem trabalha transformam-na em escultura de grandes dimensões.

Usa materiais como aço inoxidável e betão e elementos usados na construção de residências polacas dos anos 1950 a 1980 . São lembranças de muitas demolições seguidas de abandono que Sosnowska observou e resultaram do ajustamento do seu país à moderna economia capitalista. Aparentemente deforma esses elementos e o que resulta das deformações mesmo com materiais pesados são novas formas muito ligeiras ainda que imponentes. Surpreendeu-me a exposição da Galeria 2: a princípio apenas vi no chão, no meio da sala, um monte de entulho, mas alguém me ajudou a notar o buraco do tecto. O buraco e o entulho branco vão bem com demolição de paredes.

Olhando para a cena, podemos imaginar qualquer história. A artista mostra naturalmente influência dos lugares em que viveu ou que visitou: as suas peças contam histórias do passado, mas também do presente da cidade que a expõe, do Porto, neste caso.

 

(imagem do Museu de Serralves)

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publicado às 20:26


2 comentários

De Anónimo a 19.04.2015 às 20:44

pois... mas quem arruma depois aquilo tudo? Ela brincou mas agora alguém vai ter mais trabalho... e limpar o pó!

De Zilda Cardoso a 20.04.2015 às 15:14

O pó também faz parte da obra de arte. Não há demolições sem pó. Que importa o trabalho de limpeza posterior? Isso já não diz respeito àquela obra, mas a uma outra.
Ela não brincou a não ser com as maquetas de papel. Eu acho que encontrou uma forma de se expressar na obra de arquitectura demolida. Alguém destruiu e a artista Monica Sosnovska reconstituiu de outra forma com velhos materiais ou com outros. O que construiu tem muito a ver com memórias e comunidades, regimes políticos e ideais sociais. Reparo na insistência de formas retorcidas e deformadas ou suspensas e contidas entre o tecto e o chão...

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