Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Pela primeira vez, senti que havia diálogo entre uma exposição e a arquitectura do lugar onde se realiza.
Monica Sosnowska, artista polaca, escultora que concebe o seu trabalho como aquilo a que se chamou “arquitetonização”, quer dizer, partilha de elementos formais entre arquitectura e escultura, tem uma exposição em Serralves muito interessante e curiosa para mim.
As peças que estão no átrio, nas galerias do Museu e no exterior são trabalhos realizados entre 2003 e 2015 e reconciliaram-me com a arte contemporânea de que tenho andado arredada por não pretender participar naquilo para que não quero sequer olhar. Nem ouvir.
Diz-se no prospecto do Museu: ”Concebida em diálogo com a arquitectura do Museu de Serralves desenhado por Álvaro Siza , a exposição revela o percurso de uma artista que pensa a escultura não só como objecto físico mas também em termos de espaço, tempo e memória.”
O espaço habitual de exposições do Museu está outro porque além das esculturas independentes, há formas suspensas e formas pendentes com efeitos espectaculares sendo simples, como a escadaria retorcida que domina todo o espaço da Galeria 1. Liga-se ao tecto e liga-se ao chão e é uma intervenção escultórica barroca de grande beleza e leveza.
Os materiais que usa e a sua forma de os transformar, o processo criativo, enfim, despertaram a minha atenção. Sei que, por vezes, faz uma pequena maquete de papel, coisas de brincar, e depois os técnicos com quem trabalha transformam-na em escultura de grandes dimensões.
Usa materiais como aço inoxidável e betão e elementos usados na construção de residências polacas dos anos 1950 a 1980 . São lembranças de muitas demolições seguidas de abandono que Sosnowska observou e resultaram do ajustamento do seu país à moderna economia capitalista. Aparentemente deforma esses elementos e o que resulta das deformações mesmo com materiais pesados são novas formas muito ligeiras ainda que imponentes. Surpreendeu-me a exposição da Galeria 2: a princípio apenas vi no chão, no meio da sala, um monte de entulho, mas alguém me ajudou a notar o buraco do tecto. O buraco e o entulho branco vão bem com demolição de paredes.
Olhando para a cena, podemos imaginar qualquer história. A artista mostra naturalmente influência dos lugares em que viveu ou que visitou: as suas peças contam histórias do passado, mas também do presente da cidade que a expõe, do Porto, neste caso.
(imagem do Museu de Serralves)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.