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Estive em Milreu, uma vila rústica que já era próspera no século II a. C. ou pelo menos no I século a.C. ligada ao desenvolvimento económico da Hispânia e da Lusitânia.
No século III, com os grandes proprietários agrícolas instalados no campo, foram construídas grandes casas, decoradas com mosaicos e mármores e com rede de abastecimento de água.
Depois de importantes escavações realizadas aqui em Milreu no século XIX apareceram mausoléus, uma residência com peristilo central e colunas, átrio e pátio aberto com jardim e tanque de água e também residências modestas, lagares de azeite e de vinho. Há um outro átrio com fonte e repuxo, salas interiores aquecidas e cozinha, grande sala com abside - era o triclinium - e termas com tanques para banhos frios, quentes e tépidos.
Tudo isto resultou de melhorias sucessivas, de acordo com descobertas técnicas e decerto com as possibilidades económicas dos proprietários.
O que mais gostei de ver, para além do enorme edifício religioso, foi a decoração de pequenos tanques de água com mosaicos representando grandíssimos peixes gordos que sob a água se reduziriam a dimensões normais. Alguns pareceram-me simpáticos golfinhos. Havia no frigidarium banheiras de água fria com a mesma decoração de peixes roliços e coloridos.
No edifício de culto, monumental, romano do século IV, os arqueólogos descobriram vestígios de tudo: dos muros, das cornijas, das colunas com e sem inscrições, dos capitéis e placas da balaustrada em mármore, do tanque poligonal. E que na reconstituição em maqueta do arqueólogo alemão Hauschild é de uma delicadeza e duma beleza que não é visível na ruina.
A partir do século VI, o lugar serviu ao culto cristão e foi oratório e cemitério na época islâmica, sendo povoado até ao século X, época em que as abóbodas ruíram e foi abandonado.
Lamento não saber explicar melhor e, abrasada por um calor enorme logo de manhã, não me é possível estudar com tranquilidade o que aí está.
O céu enevoado, apenas com alguns farrapos esfarrapados de azul, nuvens negras e ameaçadoras, pensava eu, haveriam de trazer chuva daí a escassos minutos e eu ficaria feliz de a apanhar em directo e fresquinha nas ideias.
Mas não veio. Veio mais calor que me fez morrer um pouco a cada passada na vila romana.
Que sensações: a de estar a visitar um espaço tão habitado há vinte séculos e poder imaginar como se vivia aqui nesses primeiros tempos da era cristã e antes; e a de o calor me estar a apagar com presteza. É claro que os Romanos possuíam piscinas de água fria e peristilos, galerias, jardins e fontes, repuxos, pátios e pódios…
O que lá está agora está consumido (com excepção dos peixes gordos), limpo e interpretado, ainda que haja numerosas parcelas para desenterrar. Por isso, não me demoro, compro um prospecto/guia que me informa pouco acerca do que queria saber: é que preferia meditar tranquilamente sobre as legendas de uma boa exposição paralela de fotografias que vi à entrada e… não pude acarretar as legendas.
Confesso adorar os Romanos que continuam a saber viver com ou sem governos reformadores em mil dias ou mesmo sem governo nenhum, com ou sem Cosa Nostra, sequestros e vulcões, com tudo aquilo que eles têm e mais ninguém tem e sem o que não querem ter.
Se tivesse de mudar de cidade, iria viver para Roma Antiga.
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