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HOJE

por Zilda Cardoso, em 14.03.17

DSC05645.JPG

Fui visitar a passarada no estuário da ribeira da Granja na Foz do Douro.

Havia centenas de gaivotinhas de patas amarelas que surfavam (devo escrever sarfavam? não é bem o mesmo som…) deliciadas. A água corria para o mar com uma ligeiríssima ondulação e elas deixavam-se ir, era bom de ver. Voltavam atrás e recomeçavam a cada dois minutos… Assim ocupariam a tarde de sol e de vento. Não precisavam comer mais nem brigar mais, brincavam.

Também andavam por ali patos, muito mais sisudos, asseando-se continuamente, penas brancas e brilhantes e bonito porte. Acho que se maquilham para representarem um papel, não descobri qual.

As garças e os corvos são mais sombrios, não se regalam facilmente. Estavam no meio do rio, sobre o pouco seco, de costas para a costa, para a minha costa, e quase sempre de asas abertas como se tivessem calor.

Vêm passar o Inverno em Portugal. Estão quase a ir - se para norte, para Inglaterra e para a Irlanda. Parece que secam as asas quando pousam, é o que se diz. E também se diz que há duas espécies de corvos: o de faces brancas e o de crista, chamado galheta que vive todo o ano por aqui embora seja mais raro e difícil de encontrar. O mais comum é o de faces brancas, o que migra, o que está apenas de Inverno.

Só a voar os acho elegantes, o de crista, pelo menos.

Na água hoje nenhum pensou como a vida é difícil. Nem as garças-reais cinzentas tranquilamente pousadas, de pé todo o tempo, na rocha do estuário. Admiro a sua tranquilidade. E também o seu pescoço (de garça ou de bailarina?), as suas pernas altas e elegantes, como é moda.

Também há maçaricos das rochas e rolas do mar e piscos de peito azul… mas eu não quero saber mais, só constato que todo este mundo está feliz.

E eu regresso a casa um pouco banhada pela sua fortuna.

DSC05646.JPG

 

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publicado às 10:04


5 comentários

De Victor a 15.03.2017 às 21:51

Ter um olhar "clínico" ao observar aquilo que é "banal" para muitos é um dom que admiro. Do "quase" nada fazer nascer um texto belíssimo é "invejável"...!

Os ciprestes...!
Na fila do trânsito reparo nuns ciprestes que se agitam com o vento de uma forma ortopédica. E reflito. Os ciprestes são árvores infelizes. Durante muito tempo condenadas a ensombrarem os cemitérios, hoje são obrigadas a serem figurantes mediterrânicos nestas Ágoras modernas, sem gente, nem movimento. São, por isso, árvores habituadas ao vazio e ao silêncio. Árvores feitas para que não reparem nelas, pois até a própria sombra não é mais do que uma faixa magra e inútil no chão. São criaturas que aprendem a ser invisíveis. É o que se espera delas: que se deixem ficar sem se fazerem notadas. E eu penso no tanto que poderíamos aprender sobre as pessoas se olhássemos mais para as árvores.

De Zilda Cardoso a 16.03.2017 às 08:32

Mas o seu texto também é belíssimo.
Muito agradeço o seu comentário. Felizmente há ainda quem repare no que nos rodeia e tire disso satisfação, contentamento. Vale a pena reparar nas coisas simples deste mundo, naquilo que construímos e no que nos foi dado. E como fomos capazes de construir bem além do que construímos mal.
O que é interessante é ver que não realizamos apenas coisas más. E que somos capazes de raciocinar sobre isso e de nos emocionarmos com isso.

De Victor a 16.03.2017 às 13:57

Obrigado...!
É uma forma de ocupar tempos vazios, no trânsito ou não...em vez de pensamentos, actos ou palavras(ões) que o meu "eu"não entende...!

De José Miguel Vieira a 25.04.2017 às 19:54

Hoje vi flamingos na Ria de Aveiro junto da qual fui caminhar!

De Zilda Cardoso a 08.05.2017 às 07:55

Fotografaste com certeza. Há muito tempo vi aqui nesta foz. É sempre um regalo.

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