Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Fim de férias... já?

por Zilda Cardoso, em 31.08.14

 

 

 

 

Em dias como este, duvido que o mar resida próximo de mim. Parte do dia, não o vejo. Ouço um pequeno ruido que presumo seja o do seu movimento antes constante. E há um cheiro forte a mexilhão e a algas verdes a apodrecer.

Uma neblina é o que avisto no lugar onde ele era.

Estas incertezas e disfarces densos, mais ou menos duradouros, quase diários, ultimamente, vão-me arrasando. Não estou segura sequer do lugar nem das coisas nem das pessoas se, um dia, estão e são, e, no seguinte, desapareceram.

Com que me hei-de relacionar? E como posso sentir-me feliz ou infeliz? Numa peça de teatro há mais segurança quanto à verdade dos episódios; os factos aqui são fugidios, fluidos, húmidos, de cor neutra e sem graça.

A gente da praia deixou a praia, vestiu as camisolas ou foi embora desprotegida desde que foi verificado que não há nem vai haver de certeza sol para apanhar. As pessoas estão em silêncio, coladas no fundo do cenário, quietas, dominadas pelo relento melancólico, pelo cheiro, pelo peso do cinzento sem cor.

Apenas as gaivotas continuam como se nada fosse ou eu não vejo o que as faz mover contra a corrente, rentes ao chão, sobre as rochas metamórficas. Uma grande parte, as mais velhas, aproveitam para uma reunião política destinada a resolver como curar o mundo. São eficientes e apreciam tomar a iniciativa. Também se zangam muito.

Algumas pessoas estão deitadas por debaixo dos guarda-sóis, o que é, pelo menos, bizarro. Estavam programadas para passarem o dia a apanhar sol e sabemos como é trabalhoso mudar de ideias e de programa. Contemplo no seu rosto um ar de regresso para nenhum lado, como se não conhecessem ninguém no mundo para acolhê-las.

Sento-me no banco corrido para escrever, enfrentando o inevitável.

 

 

 

 

Então, sem abrir o sol, começa o ar a aquecer e as pessoas que já não têm experiência de como proceder, nestes casos, olham entre si procurando alguma cumplicidade. Na sequência, deslizam algumas para fora, já que não têm grandes expectativas, outras vão ficando.

Com que palavras, posso descrever esta confusão de que ninguém me ajuda a sair? Gostaria de recuperar alguma coisa agradável - ideia, significado, imagem… característica de um último dia de Agosto de Verão, domingo e, para muitos, fim de férias.

O meu desejo de sol aberto aliado às aspirações de todos os que aqui ficaram será suficiente para fazer ascender o nosso pedido ao lugar onde estas súplicas podem ser atendidas?

Aí está. Aconteceu o inacreditável: o sol abriu e iluminou a bela cidade.

Por um ténue momento.

 

 

 

 

(Esta é a realidade do sítio que os turistas passaram a estimar para as suas férias acessíveis).

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 17:39


4 comentários

De Vicente a 01.09.2014 às 20:07

É uma grande tristeza o fim do Verão...a luz já é outra e mesmo com bons dias, passou o espírito das férias.

Quando ainda por cima o tempo acinzenta, ainda pior...

Será que no paraíso é sempre sol e o firmamento azul? Se não for não quero sair de cá...

De Zilda Cardoso a 01.09.2014 às 21:01

Juro, foram uns dias tristes e cinzentos estes
últimos.
Pode ser que haja sol. Pode ser que não haja sol. Lá. Mas do que tenho a certeza é que se ou quando não houver sol nem azuis, há outras coisas ainda mais brilhantes. Não se preocupe: eu depois conto, como diria Agustina.

De Vicente a 02.09.2014 às 13:31

ou o meu primo Luis Bernardo.

Não lhe tenho escrito e temo que ande muito ocupado lá por cima, mas tenho uma mão cheia de coisas para lhe perguntar.

Vou ver se arranjo tempo para o fazer.

De Zilda Cardoso a 03.09.2014 às 09:47

Conte essa, conte!

Comentar post





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

  Pesquisar no Blog



Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2019
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2018
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2017
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2016
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2015
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2014
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2013
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2012
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2011
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2010
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2009
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2008
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D