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Falar do que não existe

por Zilda Cardoso, em 06.10.15

 

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Tenho afirmado com segurança que apenas escrevo sobre aquilo que de algum modo aprecio. Não me interessa pensar nem falar do que não gosto. E pronto.

Claro que me deleitou o pão de beterraba que me ofereceram há dias – pela cor, pelo perfume, pelo aspecto. O sabor não é nada mau nem o valor nutritivo. E há outras coisas apreciáveis que habitualmente me ocupam o pensamento e de que falo…  já calculam o quê.

Também consultei o arquivo do meu blogue e concluí que tenho falado com insistência das minhas asas – “asas que um anjo me deu” - e da Hungria Exemplar; da Galeria Sousa Cardoso e das suas exposições de arte tão peculiares. Opino sobre a missão dos Portugueses no Mundo, sobre a Anémona dos Pescadores e acerca de outras anémonas inspiradoras…

Imaginem que conto até à saciedade do que avisto da minha varanda e aconselho cada um a ter um bom coração e a fazer sadias resoluções para o ano seguinte ou o mês seguinte ou para o futuro.

As minhas figuras predilectas, escritores e artistas, nomeadamente,  Agustina, Luísa Dacosta, Vieira da Silva, Arpad Szènes, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, Lobo Antunes são por mim muito comentadas e… posso recitar par coeur os poemas que decorei na minha juventude e ainda conservo em memória.

Todavia, a actual expo em Serralves lembrou-me como é bem mais interessante falar de coisas que não existem. Coisas que posso pensar e sentir fora do que elas são na sua existência no real. O que quero dizer é que, ao observar atentamente obras de arte conseguidas, poderei ser influenciada por elas que me sugerem novas formas de pensar, de imaginar e de actuar e mesmo modernas versões da realidade. É essa a sua função.

Possivelmente opõem-se ao sistema de valores que nos orienta.

E por que razão não é esse o sistema de valores mais desejável, o que já nos guia e nos porá felizes para sempre? Quero crer, porém, que não será. Se fosse, não haveria guerras de toda a violência nem migrações em massa, nem corrupção nem descriminação gigantesca, nem falta de cultura nem de educação. Seríamos todos iguais e bonzinhos, teríamos a mesma visão dos problemas, encontraríamos, para eles, soluções semelhantes, não haveria ciúmes nem ódios nem crimes de qualquer espécie.

Então, posso continuar tranquilamente a falar só de coisas belas? Do seu valor estético? Nem por isso. Não? Ou sim. Falarei de belas obras executadas por artistas que conseguirão por apaixonada sugestão corrigir os erros dos nossos raciocínios comuns e para que tendemos. Conseguirão alterá-los para sempre, desde que nos concentremos no seu sentido. No sentido da sua crítica ferozmente emocional, por vezes.

Gostava de saber criticar essa crítica, será emoção de mais para mim. Por outras palavras: as obras de que me proponho falar daqui em diante (não quero dizer que vá acontecer, é apenas uma proposta que me faço), para as quais me sinto atraída em primeiro lugar pelo seu valor estético, apontarão novos e múltiplos valores (serão obras abertas) que poderão melhorar o meu…, o nosso comportamento futuro quanto a relações uns com os outros e com o mundo. E aperfeiçoarão os outros e o mundo em consequência.

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publicado às 14:11





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