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Construo o meu dia sobre dias já construídos.
Ponho todo o carinho e eficiência nesse trabalho como um oleiro quando molda com as suas mãos delicadas as peças de barro que cria. Às vezes, sai um dia maravilhoso que fruo nas suas vinte e quatro horas; outras, nasce um tristonho… com nuvens e chuva e algum sofrimento.
O que importa é que dependem de mim, do meu gosto, do meu interesse, da minha disposição, dos meus conhecimentos e sentimentos.
São os meus dias. Não têm que ser como os que lhes servem de fundo nem têm que ser como os de qualquer outra pessoa. Tenho autonomia em relação aos meus dias (e eles em relação a mim, se bem que não esteja muito certa disto). E sou senhora deles, quero dizer que tenho poder sobre o mundo dos dias, embora lhe pertença, viva nele e não tenha como sair, a não ser apagando-me de vez.
Vi-me com eles há muitos anos e senti: tenho que me desenvencilhar. E posso vivê-los como entender. O que se passa com os outros para não verem as coisas da mesma maneira? poderia ter dito Virgínia Woolf.
Pois que se passa com os outros? Quanto a mim, procuro não fazer confusões, não ficar passiva nem contemporizar com seja quem for; esforço-me por ver com clareza, por encontrar a justiça e a lógica, por enfrentar os problemas com alguma informação adequada e por ser capaz de lutar contra ideias com que não concordo mesmo a nível social.
São os meus dias. Tem sido uma vida boa? Devo preocupar-me em deixar boa impressão? Na verdade, não. Mais tarde ou mais cedo, todos vão sair deste argumento e deste contexto.
Interrogo-me se esse barro moldável (até que seque) tem alguma coisa dentro… como espírito?!
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