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Costumamos dizer e ouvir dizer que pensar dá muito trabalho, e que as pessoas em geral não gostam de pensar. Assim não apreciam ler porque ler dá que pensar. Preferem procurar entender a imagem: é mais simples e divertido. Daí o êxito do cinema, da televisão, dos cartazes, da banda desenhada…
Porém, o que dá mais trabalho e é difícil, verdadeiramente sério, é não pensar. É fácil verificar isto. Não podemos estar sem pensar, não nos é permitido parar de pensar nem neste momento nem por um momento. Isto é um dado adquirido.
No entanto, e é esta a novidade, ultimamente tenho conseguido parar de pensar por tempo que não sei bem definir. É verdade que não posso garantir que não estive a pensar nesse tempo em branco, não posso, mas também não garanto que estive a pensar. É um tempo em branco em que não me lembro de nada, de absolutamente nada de como passa. O que sei desse tempo e, portanto, não é assim tão indefinido, é que passou, passou e posso verificar (no relógio, nos astros…). Mas se não recordo absolutamente nada do que poderia ter estado a pensar, então é como se não tivesse estado a pensar. É exactamente o mesmo. É nada.
Se não olho e não vejo, se não sinto nada – não cheiro, não tateio, não saboreio, não ouço - não posso dizer que isso existe. Não posso dizer que o mundo existe se nenhum dos meus sentidos me diz que existe. A menos que eu não exista, e isso é delicado dizer.
Todavia, pensar é decerto o que fazemos mais, não digo melhor. Digo com mais frequência. E, por mim, gosto de o fazer. O que será difícil é viver doutra maneira porque será não-viver. Como poderei ter a certeza de que existo se não pensar, se me mantiver por longo tempo sem pensar? Pelo menos, durante esse tempo, não existo, é o que julgo. Não sei se me interessa ter a certeza de que existo.
É-me muito difícil pensar que existo até ao momento em que deixo de pensar, e voltar a pensar que existo no momento em que recomeço a pensar. E não existir durante aquele período vazio. Um dia destes vai acontecer que não recomeço.
Deste modo, acho que não pensar é bem mais complicado do que pensar. Não pensar é cheio de consequências desagradáveis. Prefiro pensar e saber onde me encontro, mesmo que não saiba para quê.
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