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Celebração do azul

por Zilda Cardoso, em 16.04.15

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Nunca o azul me pareceu tão evidente e nu, tão quente (!). Podia ver entre mim e ele ondas de calor movimentando-se com energia, mesmo com frenesi. Isso, estranhamente, parecia tornar o azul mais azul, mais decidido. Nenhum contorno se diluía no ar e as chamas eram líquidas e sem substância, impacientes e batidas.

O silêncio aumentava ainda a profundidade deste azul vasto e só e da claridade sem sombras que não desocultava o invisível. Nunca o interpretarei, pensava, porque quero decifrá-lo com a inteligência e ela não alcança mais. Tem um limite estreito como a visão e a audição. É só por isso: tenho de aceitar esta razão que é a do meu limite humano.

O homem parece acreditar nas possibilidades ilimitadas da sua inteligência. Penso, por que hei-de querer inteligir para além do que me é possível? Se os investigadores acreditassem que, por muito aperfeiçoados que sejam os aparelhos que inventam e usam, não podem penetrar para além do limite. Que é o azul… para mim.

 

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O azul é também o que é posto ali como incentivo. Para que eu possa imaginar. Atraente em extremo, brilhante e lúcido. O que cobre o todo. O todo que alcanço. O azul que estará acima do todo e é sobretudo promessa. Não sei onde começa nem onde acaba.

Por vezes, abre-se o azul, caem gotas límpidas, refrescantes, mas tudo volta ao mesmo rapidamente.

O espaço transparente que vai de mim ao azul significa a minha esperança de aproximação a ele, é onde posso caminhar sem Deus até Deus. Porém, é o que eu não logro percorrer, porque é infindo, não porque não tente.

De que vale voar se o meu azul é constituído por camadas sobrepostas de nada? Nada, nada, nada; mas azul aberto. Então não chego ao horizonte, existe apenas para eu o olhar, arrumá-lo dali… não posso.

 

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Sinto-me aconchegada dentro do azul íntimo. Não preciso que outros me vejam e considerem. Posso ser eu própria no conteúdo azul e celebrar a comunhão com ele, gravemente. É assim que o meu coração cresce e fica do tamanho de todo o espaço interior que se transfigura em cosmo.

No momento, não há ninguém no azul, apenas eu e eu. Melhor, apenas azul. Não é necessário comunicar nem conhecer. No entanto, não estou só. Sou tudo. Não me interrogo sobre nada, porque tudo está em mim.

Alguém disse (? Fui eu que disse?!): não preciso dizer eu, digo cor, perfume, digo silêncio, rumor; digo alegria e brilho. Não preciso dizer eu.

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publicado às 09:40





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