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Sabes… aquelas horas do dia em que as horas não passam… em que as horas são sempre as mesmas? Pois é isso. É isso o que eu sinto esta tarde.
E terei mais do mesmo silêncio e de semelhante ausência até à noite, se é que vai chegar este tempo.
Recusei todas as solicitações e oportunidades para me desviar, para sair, mas aqui fiquei à espera de nada. À espera de nada? À espera de Godot!
Compreendes o absurdo desta demora.
No fundo, não há nada, mesmo nada para chegar, nem ninguém. Não é assim? Não está ninguém para chegar. Não está nada para acontecer.
Por que espero? É inteiramente absurdo.
Apercebi-me desde certa hora da manhã que não há coisa alguma que deva aguardar. Não conservo esperança, é bem verdade. De resto, as promessas nesse sentido revelaram-se vãs desde muito cedo, desde as primeiras horas.
Como posso continuar nesta ansiedade?!…
Por outro lado, se espero por Godot mesmo sabendo que não vem, é porque ainda tenho esperança. Ou devo usar outra palavra mais expressiva para esperança-imensamente-esbatida? Será mais, sem dúvida, um desejo que é também e ainda espectativa.
Ninguém virá.
A não ser que dependa de mim! Da minha vontade!
Vou afastar-me. Neste momento, é a minha escolha.
Vou ao encontro de Godot. Farei com que venha comigo. Farei com que fale comigo. Se houver algum silêncio, ele será cheio das minhas reflexões. Vamos entender-nos os três.
Há esperança afinal. Está suspensa em mim, dentro de mim, num primeiro momento. Passarei rapidamente ao instante seguinte.
Que é o do encontro, sabes? Irei ao encontro de Godot: é a minha vontade, o meu desejo, o meu gosto, a minha esperança-imensamente-esbatida-quase-esvaziada.
Ele dirá coisas inteligentes e inteiramente absurdas que eu vou compreender. Pois temo que haja um sentido para esta infinda espera.
Sim, temo que haja um sentido para a existência. Só que não o descobri.
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