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O Nada

por Zilda Cardoso, em 24.03.22

 

Não temos qualquer experiência do nada.

A morte é o nada.

Não temos experiência da morte porque a morte é o nada.

Não sabemos o que é o nada, não conhecemos a nossa morte. A não ser que é o nada e porque calculamos, embora nos custe a aceitar, calculamos que não fica qualquer recordação da vida, do que foi existir, até ao momento da morte.

Até ao momento do nada.

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publicado às 10:02

Da sua varanda...

por Zilda Cardoso, em 23.03.22

 

Vê-se o mar, o porto, a praia dos surfistas e a outra… extensa.

Ontem apreciámos tudo isso devidamente, da sua varanda. Mas não vimos o Sol no seu esplendor antes de desaparecer, dourado e brilhante no horizonte, ao fim da tarde.

O ouro encareceu no mercado com recentes acontecimentos belicosos e, talvez por isso, não abrilhantou nem enriqueceu o Astro como noutras ocasiões, frequentes, em que alguém é calorosamente convidado para o admirar de longe, da varanda. A certa altura, enfiou-se na barreira espessa de humidade cinzenta, justamente uns centímetros acima do horizonte, e ninguém mais o viu.

Então, a minha amiga convidou-nos para nos refrescarmos com o seu alto e belo copo borbulhante e também dourado, que esse sim manteve a promessa, entre as salsas e as hortelãs verdes e bem-cheirosas dos vasos e as flores sofisticadas que crescem na varanda e sorriem para nós todo o tempo.

Gosto do sorriso delas, até que murcham. Dão-se alegremente: é um regalo contemplar!

Daí a pouco e inesperadamente, estávamos na sala de jantar perante uma mesa requintadamente posta em frente ao porto que podia ser Manhattan mas era muito mais bonito e próximo. E havia os barcões brancos de turistas, muito esticados ao longo do paredão, e que ali tinham pernoitado para a programada visita à cidade.

Como podíamos não estar deleitados? Cantámos canções da nossa juventude, napolitana e grega, nórdica e alentejana e minhota e beirã, tudo em poucos e alegres minutos…e eu disse, a pedido, e muito mal, um poema do meu recente livro…

Foi uma reunião totalmente conseguida, alegre e original. Apenas se falou de música, de amizade e de arte. Que melhor?
Bem rodeados estivemos na sua varanda, estimulados para pensamentos benévolos, não fez falta aquele outro brilho precioso dispendioso, de mercado.

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publicado às 08:31

Confortável maneira de ver a vida

por Zilda Cardoso, em 21.03.22

Há muitas coisas que me  esforço por realizar bem.

Nem sempre consigo. E ralo-me. Mas há outras - muitas - com que não me importo, realize bem ou mal, Não quero saber..

Por isso, muitas das coisas em que penso quando contemplo o mundo da minha varanda é que talvez aquilo que nesse momento me está a preocupar pertença afinal ao grupo daquelas coisas com que não me importo, de que não quero saber.

E fica tudo bem, confortável, saudável.

(Descobri esta semana esta nova e extremamente confortável maneira de ver a vida.

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publicado às 15:02

Apenas um pouco de saber

por Zilda Cardoso, em 20.03.22

 

Felizmente, não estou só, sozinha e solitária. Há no mundo outras entidades de grande porte e valor, relevantes como a Lua, o Sol, diferentes astros ou estrelas.

Dou-me bem com eles, vejo-os quase todos os dias, conversámos.

Não sei o que faria se desaparecessem. Achar-me-ia desamparada.

Vejam só a minha sapiência. (Já lhes contei como o Roland Barthes define sapiência e escrita moderna?)

Aquela ideia de que estou com o Sol, com a Lua, com outros planetas enche-me de uma segurança enorme, pois não é fácil que vão desaparecer todos e deixar-me para trás, alone. Por isso, me sinto acompanhada e cheia como um boneco insuflado de coisas boas e resistentes.

É claro que se aproximarem de mim suficientemente um objecto picante… eu posso esvasiar subitamente. E lá se vai a confiança em mim própria: fico despida por dentro. (Por fora… não sei).

Acto que a minha escrita revela e que R. B. chamava sapiência. É o que penso aproximar-se da realidade do que escrevo.

R.B. falava de uma escrita moderna que de certo era do seu agrado e que revelava ausência de poder, apenas um pouco de saber, alguma sabedoria e o máximo de sabor possível.

Como apreciava chegar lá!

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publicado às 17:55

Uma obra de arte?

por Zilda Cardoso, em 09.03.22

Ultimamente, tenho andado a inventar uma vida…

Mas sempre tive uma vida! Só que nunca foi, antes, e continua a não ser, a que gostaria de ter. Ou como me agradaria que fosse.

Todavia por que não a fazer do meu agrado? Pois… depende de mim. Posso fazê-la má e, de qualquer modo, inventar uma satisfação para ela, quero dizer, posso pensar que ela é satisfatória e me preenche assim mesmo, tal qual é.

Posso construi-la como quiser e entendê-la como pretender. Nem sequer são superioridades minhas: esse modo de viver, essa vida ou a minha satisfação dela, sem limite, dependem da minha escolha, e isto é igual para toda a gente.

Posso considerá-la do meu agrado, por exemplo, sendo solidária para com os outros, que são meus iguais. Ajudas recíprocas para que estejamos todos bem. Nós e o mundo.

Sem guerra (sem vencedores e sem vencidos).

É uma ideia que pode resultar.

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publicado às 06:40

A minha escrita

por Zilda Cardoso, em 19.02.22

 

Gostaria que a minha escrita se assemelhasse a um jardim silvestre.  

Penso em certos jardins que vi algures e há muito tempo em campos de golfe. Nunca nada me agradou mais.

Há certas zonas, dentro do campo, que me merecem a melhor atenção. E são os canteiros (dão-lhes outro nome), naquele caso, totalmente preenchidos com flores  semi-selvagens.

Nos campos que me apraz recordar, as flores nesses espaços eram em profusão, rigorosamente escolhidas (parecia-me) segundo as suas formas – delicadíssimas, as cores, os perfumes, não exigentes quanto a tratamento, mas todas com as mesmas exigências, dispostas a agradar sem clamar (bradar) atenção…
São zonas-do-meu-contentamento, supõem conhecimentos muito variados e aprofundados, alguma sabedoria (diria bom-senso), capacidade de atrair pelo seu sabor. De convencer do seu valor?

Não impondo regras, não impondo coisa alguma.

Partilhando também ou principalmente a beleza do mundo.

Nesse tempo, ficava-me por ali, embora fosse suposto caminhar sem fim atras de uma bola ou seguir os que a seguiam.

Era ali que fazia as minhas observações e descobertas e me sentia feliz.

Por isso, hoje desejo que a minha escrita seja um campo de flores silvestres.

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publicado às 10:23

Horas a mais… justificam-se

por Zilda Cardoso, em 10.02.22

Aquelas horas que cada dia tem a mais e que são tão difíceis de passar porque não têm fundamentação, poderão ser preenchidas com espectáculos de T.V.?

Poderão eles fazer esquecer o que não agrada, isto é, a nossa vida… se for patética, sem finalidade, sem jeito?

Poderiam… se não fossem tão sem graça.

A vida que já foi interessante, pode ser reconstruída de modo a voltar a sê-lo?

É essa a questão.

Todos esperam que os mais velhos se esqueçam de si próprios, para que os que não são mais-velhos tenham razão para os esquecerem e serem desculpados alegremente.

No entanto, os mais velhos não podem esperar que seja inventada uma vida para eles (nós), interessante e útil à humanidade. Devemos inventá-la, à nossa medida. E isso é o que está a ser difícil.

A nossa medida? Cada pessoa se vê de certa maneira,  possivelmente diferente da maneira como outra qualquer pessoa a vê. Pode haver muitas formas desiguais de ver e de entender, de ser e de querer para qualquer um.

Contudo, esta prosa poderá ser encarada como parte da “grande conversa universal” e justificação para essas horas sem justificação - alguma coisa dessa ordem.

Como disse, sobram sempre muitas horas, cada dia.

 

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publicado às 19:24

Mito do Cargueiro: o mesmo, outro?

por Zilda Cardoso, em 30.01.22

 

O tempo tem sido muito melhor do que bom aqui na Foz do Douro.

Passeei durante a manhã pela Avenida, sem vento, sem frio, sem chuva. Que fizemos para merecer tantas bênçãos?

Para cúmulo, revi hoje, navegando a boa velocidade em direcção ao porto de Leixões, o barco carregado de mercadorias que se destinava aos naturais da Polinésia, desviado para aqui por habilidosos, formados em diversas disciplinas superiores nas nossas escolas.

De vez em quando, tenho esse privilégio ou esse desgosto: o de saber que os nativos da Polinésia não resolveram o seu problema e continuam zangados connosco. E ainda não receberam o que lhes era destinado pelos antepassados e lhes teria permitido viver na abundância, como nós vivemos. Talvez tivessem sabido evitar a exacerbada sociedade de consumo.

Em mim hoje, o Cargueiro despertou um sorriso. Ou dois ou três sobrepostos. Misturados com céu e mar muito azuis e tudo o mais que dá a esta cidade o valor que ela tem só porque existe.

(Falei no mito do Cargueiro neste blogue em 9 de Março de 2012)

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publicado às 12:49

Em termos simples

por Zilda Cardoso, em 15.01.22

Estudei muito os temas de que falo. E é por saber do que falo e afirmo que posso falar disso com simplicidade.

Não se trata de ignorância, como muitos pensarão.

E é pena que pensem, porque talvez não tirem o proveito que podiam tirar da leitura ou da conversa em questão.

Ocupou-me anos esse estudo. Esses estudos variados, as observações, análises, reflexões, perguntas, pensamentos antes de ousar falar deles, e de escrever sobre certos temas que nos poderiam ocupar a todos de forma proveitosa.

Sei que me arrisco a nunca ser compreendido o meu pensamento quando falo de mim deste modo, quando falo dos outros, do mundo, quando digo coisas que considero fundamentais em termos simples. Que poderão ser inacreditáveis.

Com a dificuldade de nunca saber o que se passa no pensamento dos outros; nem os outros saberem o que realmente se passa no meu.

Gostaria que compreendessem, não apenas o que digo, mas o que quero dizer quando escrevo.

E, do mesmo modo, sei que posso falar disso tudo com singeleza e a bem de todos, sentir o prazer de ser capaz de me aproximar da verdade, se é que isso continua a ter importância.

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publicado às 19:10

Paisagem diferente cada dia

por Zilda Cardoso, em 03.01.22

Paisagem diferente cada dia

 

Coloco um vidro imaginário em frente a mim quando vou à janela, cada manhã - é o meu hábito - um finíssimo vidro transparente peculiar que me permite alterar as cores, as formas, as texturas de cada objecto natural ou artificial na paisagem. E que constitui o que me é possível ver e perceber ao longe, no mundo organizado para meu bem.

Desfrutar também.

Cada dia, o mundo é desigual a distintas horas do dia, estando sempre idênticos objectos nos mesmos lugares e os mesmos olhos a mirar.

Contudo, não preciso preocupar-me.

A questão existe na minha capacidade (de entendimento), e de acesso à pequena superfície transparente, sólida e frágil, que me autoriza a conhecer e a reconhecer o que já vi antes, neste lugar e em alguns outros.

Ou não!

Mas não sei se tudo estava ontem e anteontem aqui, na realidade, ou se cada dia é produto de imaginação-sem-base. Se é efeito do vidro transparente em si, pura e simplesmente, a que chamo aqui IMAGINAÇÃO, que se altera a todo o instante. E por sua vez altera…

Importa saber?

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publicado às 13:02




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