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Tenho estado em retiro de silêncio e vou continuar por uns tempos. O silêncio neste caso é o imposto pelo corpo - a sua imobilidade. E como continuo com a Embaixada a Calígula como livro de cabeceira, de sabedoria incontestável, procurei nele o que Agustina diz sobre o silêncio.
Encontrei na recente edição, páginas 135 e 136, um texto magnífico sobre a realidade que vivo e o tema que me ocupa e em que gosto de reflectir.
De resto, a obra é um manancial de saber, de erudição - cada frase… … cada linha… cada página é para analisar, admirar e tentar entender.
Deixo-lhes o silêncio de Agustina.
“De maneira nenhuma um silêncio se parece com outro silêncio. Se cada pessoa se define pelas palavras que profere, pela capacidade de manifestar as suas ideias, todas se distinguem no silêncio de que são capazes. Há silêncios místicos e silêncios timoratos. Há os que podem mover o mundo e os que não têm mais força que a imutável presença de um réptil entorpecido. Há o silêncio delicado do sábio e há o silêncio tenebroso do traidor. Se uns são delirantes, outros podem ser loquazes e cheios de risos; se aqueles balbuciam, outros exclamam.
O silêncio é, de todas as manifestações humanas, a que tem talvez mais poder; o que não se obtém com a cursiva forma escrita, com a convicção da voz e a intimação da palavra, o silêncio pode-o conseguir, pois age sobre a imaginação e, mais directamente, sobre a consciência. As pessoas que nada têm para confessar ou que confessam demasiado são quase sempre sinistras ou mentirosas. Mas alguém que é como uma gota viva de mercúrio, que se agita inventivamente, que é perseverante no silêncio e ocupado no seu ser, é uma espécie de fábula.”
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