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A democracia é muito penosa de viver. Quase tão penosa como a ditadura. Em certos momentos é mais. Na verdade… em muitos momentos!
Ao ver como se discute seja o que for, horas e dias e semanas, até à exaustão, sem aparentemente chegar a qualquer resultado, sem ver o fim das discussões, mas inventando a propósito dramas de todo o tamanho, contos e novelas com que as pessoas se entretêm… penso como teria sido agradável e proveitoso ter nomeado um déspota superinteligente e esclarecido, um génio, para nos dizer de que modo seria melhor para todos pensar, ver, agir. E que se executasse de boa vontade tudo o que ele dita, logo a seguir, com todo o rigor e tal qual ele ditara.
Vamos lá ver: arrisco-me a ser chamada fascista ou, muito pior, nazista nietzschteana, por exemplo, mas é tão divertido imaginar um tirano, nascido e criado connosco no período democrático e criativo, escolhido por nós…
Eu explico: a vida política (pelo menos aqui neste Portugal, os outros depois copiariam) resumia-se a dois períodos pacíficos relativamente recorrentes.
1) O da democracia
que é o tempo da criatividade, da confusão, das rupturas e da controvérsia sem fim.
Será um período em que sentimos que não precisamos ser independentes, resolver, decidir, ter o comando… sempre - sentimentos apropriados a este período em que o fundamental é pensar e descobrir e envolvermo-nos.
Andaremos enrolados nessas discussões que deixam qualquer um embaraçado quanto ao caminho a seguir, quanto à estratégia que é ardil, como se tudo fosse jogo de futebol que é preciso ganhar, e vamos apenas encontrar o caminho do interesse comum para o bem comum. (Que é o único que interessa, visto não sabermos viver senão em comunidade).
Até podemos encontrar a verdade, teremos participado nessa descoberta tal como aquele génio que vamos daí a pouco escolher como líder e que participa e surge do mesmo caldo de que nascemos (isto é importante repetir). A ocasião surge em que alguém esclarecido e preparado para tarefas de grande relevo e valor pensa por todos nós e executa ou manda executar, espécie de abelha-mestra de gigantesca colmeia para a qual todos trabalham.
2) O da autocracia
que seria o tempo de governo de um, desse, com os outros a deixarem-se governar.
Esse seria alguém que tivesse processado no seu PCVP - …verdadeiramente pessoal - toda a informação obtida, sem desperdício, e que gostasse de governar e não de representar. Mostraria com a pompa merecida - não mais nem menos - o seu programa. De uma vez só.
O seu período de reinado absoluto será para os outros a pausa na governação ou na confusão, será a ambicionada descoberta da verdade e de outras coisas.
Se cada um de nós quer a todo o custo experimentar a verdade, deve saber que "cada qual tem uma verdade ao seu tamanho" e há as aparências, as sombras, as formas, as ideias... E também "verdades que só aproveitam àqueles que são capazes de participar na sua descoberta" (Agustina).
Pois.
É isso, nem sempre. Quase sempre.
Revelo agora um segredo: saberemos todos uma coisa fundamental quanto ao ditador, déspota ou tirano, autocrata, o que quiserem: não estamos, a população não está minimamente preocupada porque ele tem que ser eliminado ao fim de 5 anos, imperiosamente.
Essa depuração deve ser feita com regularidade, sem qualquer complacência. Para não haver dúvidas, mandamos cortar-lhe a cabeça como sempre faz a Rainha no País da Alice, sem que haja problema.
A interrupção é necessária em qualquer dos estados ou períodos políticos. É necessário passar de um para outro ciclicamente, sabendo que o que vem, o déspota escolhido vai começar o seu reinado mais à frente, vai começar um reinado que evoluiu no período do tumulto graças à contribuição de todos.
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