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OVO GIGANTE

por Zilda Cardoso, em 24.07.10

 

 

  

Um ovo gigante apareceu num vaso da varanda do Jorge Nuno, na sua casa em frente ao Parque da Cidade. O ovo esteve ali, semi-abandonado até que pelo menos dois pombos altruístas apareceram e se revezaram a chocá-lo. Era um bonito espectáculo ver ora um ora outro ficarem horas a fio partilhando a dádiva do seu calor ao ovo de ninguém-sabia-quem. O Jorge Nuno não ousava nem abrir a porta de casa para a varanda quanto mais aproximar-se. Deixou mesmo de frequentar a sua sala para não perturbar os generosos fecundadores.  

Aquilo durou semanas, ele… sempre bird-watching. Até que um dia o ovo eclodiu e apareceram dois espécimes que ele não soube identificar. Dois de um ovo!

 

 

E assim começou uma outra história, uma impressionante história de sobrevivência.   

Um dos pássaros/bebés desistiu quase logo, o outro continua, agora sozinho, a lutar pela vida sob os olhares apaixonados do dono da varanda. Apaixonados e observadores. A sua máquina também emocionada fixou diversos momentos e provavelmente ele tomou notas que vão servir para ampliar os conhecimentos científicos dos ornitólogos. Muitos interessados em pássaros  vão aproximar-se e fazer com o novo observador longa amizade.

O comportamento daquelas aves foi extraordinário tanto quanto sei e o do filhote combativo ainda mais curioso. Ninguém lhe meteu a comida no bico como fazem todos os pais; alguns até muito tarde - em geral os pássaros condescendem com crias mimadas e exigentes, sempre gritando de boca aberta por mais. Este teve que abrir os olhos e imaginar o que seria bom para si.

Assim como o J. N. que não fazia ideia do que comeriam. Foi perguntando e pondo água e migalhas de bolacha, comprou comida numa casa da especialidade sem saber de que ave se tratava. Ele era tão feio e esquisito, peludo e amarelo, grande e desmantelado!

 

 

Foi tirando fotografias a medo, mas nem era preciso ter medo – o pobre não sai dali e os outros… é bom que saiam. Nenhum lhe vai ensinar nada: como aprenderá a voar? Depois do nascimento, os pais adoptivos desapareceram, considerando a missão cumprida, segundo a sua lei.

Porém, pela calada da noite, J.N. abre a porta devagarinho e coloca a comida no vaso sobre a terra, não há ninho. De manhã, vêm os graúdos comer os grãos e, pelos ferimentos do pequenito, calcula que o ataquem.

Não sabe como defendê-lo.

Mas a história continua.

 

 

(Fotografias de J.N. para Flipado no Facebook - do ovo misterioso ao gigante que será um pombo-correio comum a constuir-se quase só!) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 12:33


7 comentários

De Augusto Küttner de Magalhães a 25.07.2010 às 03:39

Muito interessante este lindo exemplo de solidariedade, entre pares.

Ao ir lendo, pensei, quão desinteresadamente, duas aves foram ajudar a deixar viver dois, ficou um só, seus semelhantes.

E continuando a pensar, cheguei a uma triste conclusao, mas devo estar errado! estes animais ditos irracionais, conseguem ter "atitudes" muito mais altruistas e desisnteressadas, qjue nós humanos, seres pensantes.Porquê? o que nos tolhe o pensamento? o egoismo, a soberba? o desnorte!???

Por vezes aprender com estes outros seres, talvez nos ajude a saber construir um mundo, bem melhor, antes de tudo destruirmos, até o espaço para e destas aves!

De Augusto Küttner de Magalhães a 25.07.2010 às 08:42

Quando outros que não os que ajudaram a salvar, a agora viva, ave, a atacam para comer - o que lá é deitado pelo (por um ) ser humano, é um aspecto que nos faz lembrar muitos seres humanos, no seu querer todo o espaço ter!

De thebirdkeeper a 27.07.2010 às 10:48

it is I, leclerc (e levanta os óculos como que para melhor ser reconhecido)

De Marcolino a 27.07.2010 às 18:05

Olá Zilda!
É bom tê-la de volta, porque foi sempre, e será eternamente, uma lufada de ar fresco, nas nossas vidas, com as suas vivências!
Esta, particularmente, fez-me recordar dois episódios, um da minha infância e, bem mais tarde, já adulto, o segundo que relatarei também.
Quando era menino traquina, fugia de casa com dois amiguitos, para um dos mangais mesmo em frente a nossa residencia. Metiamo-nos por ele adentro, por caminhos nossos conhecidos, até encontrarmos os ninhos com os ovos dos jacarés. Dia a dia os visitávamos até ao dia em que deles saim pequenitos bebés jacarés! Era uma festa vê-los, meios tontos, a dar as suas primeiras passadas...
Confesso que, hoje, não me permetiria uma aventura dessas..., mas naquela altura, não sei porquê, fazia parte do nosso crescimento, olhar o eclodir da natureza!
Anos mais tarde, já homem feito, na ilha do Mussulo, perto de Luanda, vi centenas de tartarugas gigantes na fase de postura. Foi um espetáculo deslumbrante, porque foi à noite, mas em noite de Lua-Cheia!
Mais tarde, fui ver sair dos ovos, as pequenitas crias que se dirigiam de imediato para o mar alto. Entre o espanto, e o medo de as perder, seguia-as, com o meu olhar, até desaparecerem nas pequenas ondas do mar.
Estes dois factos, parecendo que não, tiveram grande influência na minha humanização!
Abraço
Marcolino

De Maria João Brito de Sousa a 30.07.2010 às 17:42

Ele já está crescidinho, Zilda. Já não tem aquele bico enorme, rosado e torto que têm todas as crias pequenas... mas precisa de mais do que bolacha Maria!
Há sítios que ainda vendem ração para rolas. É, também, o melhor para os pombos urbanos... mas, se aguentou até aqui, vai aguentar-se até ser completamente adulto e saber defender-se dos ladrões de migalhas :) Mas é capaz de querer ficar por onde está... eles não costumam afastar-se muito do local onde nascem...
Um abraço!

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