Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Um ovo gigante apareceu num vaso da varanda do Jorge Nuno, na sua casa em frente ao Parque da Cidade. O ovo esteve ali, semi-abandonado até que pelo menos dois pombos altruístas apareceram e se revezaram a chocá-lo. Era um bonito espectáculo ver ora um ora outro ficarem horas a fio partilhando a dádiva do seu calor ao ovo de ninguém-sabia-quem. O Jorge Nuno não ousava nem abrir a porta de casa para a varanda quanto mais aproximar-se. Deixou mesmo de frequentar a sua sala para não perturbar os generosos fecundadores.
Aquilo durou semanas, ele… sempre bird-watching. Até que um dia o ovo eclodiu e apareceram dois espécimes que ele não soube identificar. Dois de um ovo!
E assim começou uma outra história, uma impressionante história de sobrevivência.
Um dos pássaros/bebés desistiu quase logo, o outro continua, agora sozinho, a lutar pela vida sob os olhares apaixonados do dono da varanda. Apaixonados e observadores. A sua máquina também emocionada fixou diversos momentos e provavelmente ele tomou notas que vão servir para ampliar os conhecimentos científicos dos ornitólogos. Muitos interessados em pássaros vão aproximar-se e fazer com o novo observador longa amizade.
O comportamento daquelas aves foi extraordinário tanto quanto sei e o do filhote combativo ainda mais curioso. Ninguém lhe meteu a comida no bico como fazem todos os pais; alguns até muito tarde - em geral os pássaros condescendem com crias mimadas e exigentes, sempre gritando de boca aberta por mais. Este teve que abrir os olhos e imaginar o que seria bom para si.
Assim como o J. N. que não fazia ideia do que comeriam. Foi perguntando e pondo água e migalhas de bolacha, comprou comida numa casa da especialidade sem saber de que ave se tratava. Ele era tão feio e esquisito, peludo e amarelo, grande e desmantelado!
Foi tirando fotografias a medo, mas nem era preciso ter medo – o pobre não sai dali e os outros… é bom que saiam. Nenhum lhe vai ensinar nada: como aprenderá a voar? Depois do nascimento, os pais adoptivos desapareceram, considerando a missão cumprida, segundo a sua lei.
Porém, pela calada da noite, J.N. abre a porta devagarinho e coloca a comida no vaso sobre a terra, não há ninho. De manhã, vêm os graúdos comer os grãos e, pelos ferimentos do pequenito, calcula que o ataquem.
Não sabe como defendê-lo.
Mas a história continua.
(Fotografias de J.N. para Flipado no Facebook - do ovo misterioso ao gigante que será um pombo-correio comum a constuir-se quase só!)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.