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SARAMAGO (2)

por Zilda Cardoso, em 20.06.10

 

Quando comecei a lê-lo, não fui seduzida pela sua escrita. Porém, rapidamente, vi que era um grande grande escritor que valia o esforço de tentar compreender. Escreveu muito em poucos anos, porque soube guardar as memórias do que o tinha impressionado, memórias da infância e as outras.

Nos livros que nos deixou, estão os seus sonhos e é deles que podemos usufruir.

Insurgiu-se contra a desigualdade social, a falta de humanidade,

contra  tudo que  achou mal e o que todos nós achamos mal

sem que façamos seja o que for para o melhorar. Nem sequer gostamos de reflectir sobre o que, nas suas palavras, visa a dignificação do homem.

A sua dimensão como escritor universal permite-nos pensar que ajudará a construir um mundo BOM no sentido que a doutrina cristã e outras ensinam, mas que os cristãos esqueceram há muito. Será um mundo sem opressão, sem excessos de poder, sem o desassossego de que agora ele próprio se ressente e precisa para desassossegar os outros.

Era um homem bom, não era um santo.

Por isso, não gostamos de tudo que escreveu nem de tudo o que disse. Por que havíamos de gostar? Mas apreciamos a sua sensibilidade, a sua coragem, o seu extraordinário talento para ler, observar, para sonhar e passar à escrita numa nova língua os seus desejos de mundos melhores, pacíficos e luminosos. Amorosos.

Rendo também homenagem à sua mulher cuja atitude admiro desde há muito tempo e que me enlevou hoje durante as cerimónias fúnebres a que assisti de longe com muita emoção. 

 

Quero referir agora e pedir que vão visitar PU-JIE no blogue  http://puyibrother.blogspot.com/2010/06/if-only-closed-minds-came-with-closed.html para verem até onde pode levar a tacanhez e a maldade dos que se julgam bons. (Não são todos).

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publicado às 18:30


11 comentários

De Romina Barreto a 20.06.2010 às 21:40

Também eu confesso que comecei a ler a obra de Saramago de uma forma um pouco relutante, a sua escrita (extraordinária) na altura não me seduziu nada mas quis ler por saber o que ele representa(va) para o mundo lusófono e não só... para a literatura do mundo acima de tudo. Acho sinceramente que a literatura, seja ela do tipo que for, não tem barreiras etárias. Apesar de tudo e em boa verdade eu conheço muito mal a obra de Saramago mas tenho uma vida inteira para a ler e é o que farei sendo que José Saramago era para mim e para muitos mais o maior escritor português das últimas décadas e é com essa memória de Alguém profundamente inteligente, humano e observador que eu continuarei a recordar a sua obra e a sua pessoa. Para além de tudo, uma pessoa como Saramago não morre, porque enquanto existir Língua e Literatura Portuguesa ele não morrerá... ficará na eternidade... - "E aqueles, que por obras valerosas, se vão da lei da morte libertando" como tão bem escreveu Camões e
é isso que acontecerá naturalmente, ainda bem para nós leitores e admiradores.

Um abraço enorme querida Zilda ;)

De Zilda Cardoso a 21.06.2010 às 08:56

Sempre bem-vindos os seus comentários.
Ainda bem que tem uma vida inteira para ler Saramago. Ele tem de ler-se com pausa e reflexão.
Descobrem-se coisas novas a cada leitura, mesmo de velhos livros já lidos.
Foi uma das pessoas que descobriu o outro e se interessou por revelar o que descobriu. E desejou para esse outro um mundo melhor.
Um grande abraço.

De Pu-Jie a 20.06.2010 às 21:47

“We are what we imagine ourselves to be.”

De Zilda Cardoso a 21.06.2010 às 09:02

É verdade? We are what we imagine to be?
Talvez seja. Quanto a mim, verdade é que ainda não pensei o que sou. Não pensei até ter a certeza. Deve ser por isso que sou nada.
Terá razão quem o diz.

De Vitor Martins a 21.06.2010 às 00:49

Cara Zilda,
Já não sei bem o que escrevi, mas em tempos, no Blog da Laurinda, disse qualquer coisa tipo, "Saramago, agora que sente a sua hora aproximar-se, quis antes ajustar contas com Deus...".

Ora bem, eu não gostava "do estilo" Saramago, quer da sua escrita, quer a sua personalidade, mas ... eu, por natureza, não gosto desse género de personalidades, tipo "Alvaro Cunhal", em que prevalece sempre um certo fundamentalismo! Repare, só recentemente Saramago percebeu que Fidel não era perfeito! Como foi possível?! Imagine o que seria se Cunhal tivesse chegado a ter poder nas suas mãos!! Eram pessoas brilhantes, mas... sempre as temi! Cunhal tinha um lado de génio, sem dúvida, no que escreveu, no que dizia, no que desenhava. Saramago, da mesma forma, era seguramente um brilhante escritor, mas digo-o porque aceito como certo os milhões de opiniões dos que o lêem! Outro exemplo, de Picasso só gosto da sua fase mais realista, do resto, não simpatizo, mas obviamente que concordo com os muitos milhões que vêem nele a genialidade! Já consigo ver esse lado genial em Dali, em Rubens, etc, mas eu sou assim! Em miúdo, olhava para o “Guernica” e pensava que conseguiria fazer melhor... Também eu já disse muitas vezes que se Deus existisse, nunca exigiria sacrifícios de filhos primogénitos, não faria o que fez a Job, etc, etc. Deus nunca poderia ser tão cruel! O que nunca percebi, é porque é que Saramago sentia a necessidade de provocar tudo e todos e porquê fazê-lo da forma como elo o fez!

Tenho alguns amigos que conseguiram chegar à genialidade do mestre, à tal genialidade que a minha sensibilidade não me permite compreender! Quando converso com qualquer um deles, questiono-me "da minha cegueira"! Mas agora nada disso interessa!

A Zilda escreve estas belas palavras “o seu extraordinário talento para ler, observar, para sonhar e passar à escrita numa nova língua os seus desejos de mundos melhores, pacíficos e luminosos.”

É verdade, ter “talento para ler” é realmente algo que todos nós devemos procurar possuir e melhorar.

Respeito a memória de Saramago, a dor de todos os que choram a sua morte, especialmente a da sua familia e lamento a estupidez e o desnorte de alguns.

Também eu não sei se Deus existe, mas se existir, certamente que neste momento estará com Saramago!

Ontem perto de Fátima o meu filhote disse-nos, Pai estava ali um Espírito Santo!!? Eu respondi, o quê Alexandre? Estava ali uma pessoa, nas árvores, com uma roupa branca e depois olhei outra vez e já não estava, era um espírito fantasma!

Na brincadeira disse, bom, a última vez que isso aconteceu, vieram os jornais, as autoridades, construiu-se uma basílica, um santuário, etc.

Rimo-nos e não mais pensámos no assunto!

Abraços
Vitor Raimundo Martins

De Zilda Cardoso a 21.06.2010 às 09:14

O Alexandre disse isso? Tinha-lhe decerto contado a história dos pastorinhos, etc.?!
Quanto ao Saramago, ouvi-lhe dizer que tinha a certeza de que Deus não existia. E no entanto chama-lhe "nomes". Não creio que estivesse a ajustar contas com quem não existia. Há incoerências e há a nossa cultura ancestral.
Admiro a sua obra e o seu interesse por temas humanos, um interesse que proclamou bem alto para que todos ouvissem, todos aqueles que têm poder suficiente para fazer alguma coisa visível.

Espero continuar a ter notícias do Alexandre.

De Vitor Martins a 21.06.2010 às 11:43

Cara Zilda,

Não, não lhe tinha contado a história! Aliás antes um pouco desse episódio, ele perguntou-nos, afinal 'onde vamos' e nós respondemos, 'vamos a Fátima'. Pouco depois ele disse qualquer coisa sobre o programa da Fátima Lopes e rimo-nos todos do comentário, pois ele tinha pensado que ‘ir a Fátima’ seria ir novamente ao programada SIC.
Por isso contei-lhe a história dos pastorinhos, mas depois, do tal episódio "da visão"!
Eu falo nisso no livro "Lutar até Viver", isto é, volta e meia o Alex tem estas reacções, quase parece que alguém mais maduro está com ele e lhe dá "reflexos" do que já viu em vida! É algo de metafísico entre dador e receptor....
O que mais me impressionou nem foi a visão, pois o Alex está a tornar-se um brincalhão e já consegue meter a sua colherada com humor, o que me deixou espantado foi ele ter utilizado a expressão "Espírito Santo". Ele utilizou essas palavras, depois de pensar e tentar encontrar palavras que definissem melhor o que viu. Nunca o tinha ouvido dizer essas duas palavras…

Quanto a Saramago, lanço-lhe um desafio! A Zilda escolha um livro para eu ler em primeiro lugar, sabendo que tentei ler duas vezes o Memorial do Convento e desisti nas primeiras páginas? Imagine-me como um céptico fundamentalista de que todos já desistiram e tente mostrar-me a luz que me tornará crente… em Saramago!

Prometo que lerei esse livro até á última página e de seguida, talvez, quem saiba, consiga ler mais alguns!

Abraços e um grande beijinho do Alexandre.

De Isabel Maia Jácome a 22.06.2010 às 00:40

Querida Zilda
Segui o seu conselho e li o post do Pu-Ji que não resisti a comentar pela primeira vez.
A suas palavras e as palavras de Pu-Ji deveriam ser lidas por muitos mais do que os priviligiados como nós que conhecemos a existência destes blogs.
Saramago, para mim era igualmente "um homem Bom, não um santo".
É precisamente essa sua dimensão humana, transcendente em tanto, que lhe permitiu com profunda sensibilidade, conhecimento e sabedoria mostrar-nos e ajudar-nos na reflecção e aprofundamento do conhecimento desta imensidão e complexidade da alma humana.
Mais uma vez muito obrigada
Sempre,
Isabel Maia Jácome

De Pu-Jie a 22.06.2010 às 11:07

Olá Isabel,

Muito obrigado pelas palavras deixadas no meu blogue que muito me honram.

Acho que vale sempre a pena explicar o que pensamos sobre coisas importantes, com serenidade e tolerância pelas ideias dos outros, gerindo com bom senso "as guerras de terceiros" e não sendo um permanente "guerreiro provocador"!

O silêncio e o sentido da oportunidade são essenciais e muitas vezes valem mais do que as palavras.

Com a morte e enterro do Saramago esgota-se o imediatismo das sensibilidades e reacções.

Agora fica o tempo, esse juíz do mérito de cada um de nós e a obra para ser saboreada com outros olhares.

Um amigo abraço

Manuel aka Pu-Jie

De Isabel Maia Jácome da Costa a 22.06.2010 às 22:20

Caro Pu-Jie, ou Manuel?

Obrigada pelas suas palavras.
Mantenho-me atenta ao seu Blog que aprecio bastante e para onde fui catapultada pela Zilda.
Que se saboreie a obra de saramago, sim e que com ela se aprenda o muito que nos diz sobre o que somos... tanto de grandioso quanto de perverso. Humanos, enfim.
Obrigada a si e obrigada à Zilda que admiro cada vez mais e se tem tornado, para mim, uma referência esponencialmente importante e significativa.
Sempre,
Isabel Maia Jácome


De Pu-Jie a 23.06.2010 às 11:50

Olá Isabel,

Espero corresponder ao seu interesse. Tratarei de outros temas também, deixemos por ora, o Saramago de pousio...

Já teve suficiente exposição!

Com amizade

Manuel

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