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Há presentes que se dão quando não fazemos anos. Chama-se a isso, presente de desaniversário. Pelo menos, é assim que o classifica o Humpty Dumpty que afirma também serem esses os melhores presentes: podem ser recebidos 364 ou 365 vezes em anos bissextos, um por dia, ao passo que o presente de aniversário só se recebe uma vez em cada ano. É bem verdade, segundo a lógica daqueles conhecidos lugares do outro lado do espelho.
Eu desejava que um presente destes se oferecesse para retirar anos aos que já temos. Um pouco como se os desfizesse. Porque “fazê-los não parece de quem tem muito miolo”, diz o velho divertido poema de João de Deus.
Um dia da semana passada, recebi um enorme presente de desaniversário de uma jovem amiga, com o acordo da sua companheira de trabalho e associada. Daí a dias, as duas prepararam para mim e para os meus convidados um jantar excepcional, apetitoso, saudável, diferente, bonito por um preço inimaginável. Voluntariamente… se é que sabem o que quero dizer.
Quando o Humpty Dumpty emprega uma palavra, ela quer dizer exactamente o que lhe apetece a ele que ela diga. Desta vez, voluntariamente quer dizer o que me apetece a mim que diga. O que me apetece… é o princípio de uma bela amizade.
Vem a propósito afirmar hoje que me sinto contente: estava muito esquecida, mas consegui lembrar-me do como isso se faz. E gostava de lhes contar a minha experiência com estas jovens cujo trabalho desconhecia completamente até há poucos dias. Unicamente lhes falei de um jantar sofisticado que devia preparar, rebuscado mas de época de crise - embora esta seja uma das tais palavras que não dizem sempre a mesma coisa, pelo contrário. Todos temos grandes conhecimentos e muita experiência deste tipo de vocábulos. Mas é verdade que, como diz Alice, não se pode falar com alguém que diz sempre a mesma coisa; eu digo que, se as mesmas palavras querem dizer várias coisas, então nunca estamos a falar com alguém que diz sempre a mesma coisa. Adiante.
Encontrei-me com uma delas numa viagem de comboio para Lisboa, íamos para o mesmo acontecimento. Falámos do jantar e tive a oferta. Deixei ao seu critério a escolha da ementa e aceitei de imediato a que propôs. Confiei no seu bom gosto e no bom senso e no da outra jovem a quem, soube depois, se tinha associado para serviços de catering.
A que conheci nessa viagem, quase arquitecta e estilista e agora cozinheira amadora de grande qualidade e a sua amiga apareceram risonhas, com aventais alegres e coloridos até ao chão e prepararam calmamente aperitivos deliciosos – minifolhados de salmão, morangos com cogumelos e outras maravilhas; sopa de bróculo, pato, couve roxa com maçã, empadas de puré de batata com ervilhas saborosas e perfumadas e, por fim, o brinquedo que era um bolo de chocolate enfeitado com frutos silvestre e acompanhado com um creme lindo.
E, vejam só, apesar de o gás ter acabado a meio do jantar, tudo correu sem atropelos, sem pratos pelo ar, sem lágrimas. O sorriso aberto de ponta a ponta, igualzinho nas duas, permaneceu até ao fim. Não vi correrias, não ouvi gritos nem zangas, vi o sorriso, o gosto de fazer bem com entusiasmo, com amor, com bom coração.
A Maria Manuel e a Catarina foram aprovadas com distinção.
A sua empresa de catering Hortelã Pimenta que recomendo vivamente tem um cartão cor de canela numa face e cor de hortelã na outra, o site www.hortelapimenta.pt e o email geral@hortelapimenta.pt (que não estarão ainda a funcionar). Os seus números de telefone são 914897399 e 912561165, podem começar a telefonar.
(foto de A. de Lima)
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