
Diz-se, disse José Pacheco Pereira na apresentação do livro O Escândalo Político em Portugal de Bruno Paixão, que não temos uma cultura contra a corrupção-provocadora-de- escândalo, ao contrário do que acontece noutros países, nos Estados Unidos e em Inglaterra, a propósito de escândalos sexuais, por exemplo.
Porém, há em Portugal grande produção de escândalos financeiros que se tornam poderosos, acima de tudo quando os envolvidos continuam a receber quantias principescas de remunerações como se nada de perverso tivessem cometido. Aí, toda a gente se enche de raiva contra os ricos e os políticos e os abusadores de poder e sente o prazer de os ver punidos. Que nunca vê.
De maneira geral, não há debate público sobre o escândalo. Há uma mediatização baseada não em investigação mas em preconceitos. Os factos serão escassos, mas as narrativas dos jornais, mesmos os de referência, apresentam acontecimentos verdadeiros cheios de pormenores, passos e incidentes, certos de que vão ter história para vários dias. Como se soubessem muito sobre o assunto, como se conhecessem os casos. Transformam-se gostosamente em tablóides, fazem o papel deles, isto é, se não deitam os foguetes fazem a festa e entretêm assim o público, vendendo mais. Que é naturalmente o objectivo de uns e de outros.
Entretêm os leitores, os ouvintes, os espectadores. Não informam.
Continuamos sem saber distinguir ou separar a verdade da mentira, apesar do bombardeio diário de notícias. Não sabemos por que razão uns escândalos são obscurecidos e outros relevados. Mas vemos que há sempre novos na calha e que a sua rápida sucessão faz com que os esqueçamos com a mesma presteza.
O novo faz esquecer o velho e todos ficam por resolver.
Para que serve a verdade?
As histórias mal contadas, novelas e reality shows de que temos vindo a ouvir falar serão mais interessantes se houver suspense e pudermos ficar a imaginar os diversos fins possíveis.
(vou continuar com o tema)