Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Um Escândalo Justo

por Zilda Cardoso, em 20.03.10

 
Diz-se, disse José Pacheco Pereira na apresentação do livro O Escândalo Político em Portugal de Bruno Paixão, que não temos uma cultura contra a corrupção-provocadora-de- escândalo, ao contrário do que acontece noutros países, nos Estados Unidos e em Inglaterra, a propósito de escândalos sexuais, por exemplo.
Porém, há em Portugal grande produção de escândalos financeiros que se tornam poderosos, acima de tudo quando os envolvidos continuam a receber quantias principescas de remunerações como se nada de perverso tivessem cometido. Aí, toda a gente se enche de raiva contra os ricos e os políticos e os abusadores de poder e sente o prazer de os ver punidos. Que nunca vê.
De maneira geral, não há debate público sobre o escândalo. Há uma mediatização baseada não em investigação mas em preconceitos. Os factos serão escassos, mas as narrativas dos jornais, mesmos os de referência, apresentam acontecimentos verdadeiros cheios de pormenores, passos e incidentes, certos de que vão ter história para vários dias. Como se soubessem muito sobre o assunto, como se conhecessem os casos. Transformam-se gostosamente em tablóides, fazem o papel deles, isto é, se não deitam os foguetes fazem a festa e entretêm assim o público, vendendo mais. Que é naturalmente o objectivo de uns e de outros.
Entretêm os leitores, os ouvintes, os espectadores. Não informam.
Continuamos sem saber distinguir ou separar a verdade da mentira, apesar do bombardeio diário de notícias. Não sabemos por que razão uns escândalos são obscurecidos e outros relevados. Mas vemos que há sempre novos na calha e que a sua rápida sucessão faz com que os esqueçamos com a mesma presteza.
O novo faz esquecer o velho e todos ficam por resolver.
Para que serve a verdade?
As histórias mal contadas, novelas e reality shows de que temos vindo a ouvir falar serão mais interessantes se houver suspense e pudermos ficar a imaginar os diversos fins possíveis.
 (vou continuar com o tema)

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 21:24


11 comentários

De Isabel Maia Jácome da Costa a 21.03.2010 às 09:24

Querida Zilda
Era tão bom se pudessemos fazer alguma coisa pela verdade!...
... e sabe? Não quero mesmo desistir de lutar por ela. Muitos teremos consciência do "poder" desta máquina, "poder" que me parece ser a nossa sociedade e nós com ela, a conferir... precisamente pelos comportamentos que a Zilda alerta no seu post. Muitos teremos "consciência"... mas sente-se o peso da impotência a que cada um se remete, subjugados ao peso da máquina... e creio ser essa sensação de impotência que é importante combater.
Não podemos desitir. Mais que não seja, em primeiro passo para muitos, mantendo a atenção necessária para essa consciência. Estado de Alerta!
É bom saber "em concreto" que não estamos sózinhos.
Existe quem tenha ainda a preocupação de "dar a cara" neste tipo de reflexões.
Que bom que não desista de chamar a atenção para elas!
Obrigada
Sempre,
Isabel

De Augusto Küttner de Magalhães a 22.03.2010 às 12:56

Zilda

Estou 300%, 500%, 1000% de acordo com esta excelente análise. Parabens.

"Há mediatização, baseada não em investigação mas em preconceitos. "

exactissimo!!!!!!!!!!!!!!!!


Mesmo nos jornais de referência. Exactamente!!!!

Vendem, atraem audiências, baralham, dizem que dizem e que não disseram.

Entretem, não informam.

Zilda por favor "agarre" este tema e continue, continue, e divulgue-o, está a bater no ponto mais certo, mais necessário, que não pode ser debatido pelos "médias" dado que não vão bater neles proprios.

Continue.

Parabens.

Excelente

Um abraço

Augusto

De Zilda Cardoso a 22.03.2010 às 19:15

Interessante o s/entusiasmo e muito bem-vindo. Creio que é preciso ler o livro apresentado por Pacheco Pereira em que se fala de tudo isso de que trato no m/post. É uma tese de doutoramento, e tb se fala dele na revista on line de que falei, a Livros & Leituras.
Ainda não li o livro, mas fiz minhas as palavras de J.P.P. porque achei justas e porque tb são minhas.
Irei continuar porque infelizmente o assunto não se esgota tão cedo nem perde actualidade. Os escândalos vão acompanhar a vida pública por muito tempo. Para que não se eternize este estado de coisas, é necessário que todos nos empenhemos e mostremos interesse e não indiferença.

De Augusto Küttner de Magalhães a 22.03.2010 às 23:04

Cara Zilda Cardoso,

Mais uma S/ excelente frase:

"Irei continuar porque infelizmente o assunto não se esgota tão cedo nem perde actualidade. Os escândalos vão acompanhar a vida pública por muito tempo. Para que não se eternize este estado de coisas, é necessário que todos nos empenhemos e mostremos interesse e não indiferença."

Da m/ parte não sei se é entusiamo, se necessidade, temos todos que dar o nooso - por muito pequeno que possa ser contributo - para mudar, mudar, mudar, "of course": para melhor.

Quanto ao JPP, só me assusta um pouco porque nos locais visiveis, aparece também o proprio a mediatizar-se e a mediatizar acontecimentos, leia-se o Público, ouça-se a SIC. Logo faz parte do esquema, e de dentro, hoje penso que não se consegue mudar. Acho que tem que ser de fora, sem comprometimentos..

Mas estou mais qe sujeito a estar totalmnte errado quanto ao Pacheco Pereira, e também acho - podendo estar também errado - que já anda há muito no mesmo, e têm que aparecer caras novas, gente nova, sangue novo, ideias e ideais novos.

E nós mais seniores estarmos na rectaguarda a ajudar, temos que o fazer...muito...

Sei Zilda que tem força, conhecimento, capacidade para continuar a "lutar " nesta area, muito, muito necessario. Não pare!

De João Nuno a 23.03.2010 às 01:49

Querida Zilda,
Todos os seus textos sabem a uma realidade presente que, felizmente, não vai ficando esquecida.
Ainda acredito num país onde possa reinar a justiça, mas exemplos diários do oposto vão-nos moldando os sentidos. Ou talvez não!
Já viu como esta Primavera está cheia de poesia? Que beleza este sol que faz luz nos campos verdes fatigados de tanta chuva.
Continuo a lê-la e a vir aqui diariamente. Sempre com a ternura dos momentos e com o toque de leveza que daqui se leva.
Foi hoje publicada na Livros & Leituras a entrevista que fiz à Patrícia Reis. Já pode ler em www.livroseleituras.com ! Termino agora a do Valter Hugo Mãe.
Um abraço com ternura.
João Nuno
http://joaonunomb.spaceblog.com.br

De Augusto Küttner de Magalhães a 23.03.2010 às 16:11

Se não for abuso sugiro que leiam no Público de hoje 23. Mar, o artigo de Miguel Gaspar= A liberdade de expresão e as perguntas certas".
Penso ser de uma tremenda oportunidade!!!Para aqui!

De Augusto Küttner de Magalhães a 26.03.2010 às 14:16

Ontem fui a uma Conferencia muito interessante e positiva na Catolica com o apoio do Público. Gostei. E está-me a dar a impressão que muitos estamos a deixar de ver os telejornais mediatizados, o disse que disse!! se isto alastra, são os proprios que não têm qualidade a ter que mudar!!!

De Zilda Cardoso a 26.03.2010 às 22:02

Quer dar-nos uma ideia, reduzida ao essencial, do que foi a conferência?

De Augusto Küttner de Magalhães a 27.03.2010 às 01:04

OLHARES CRUZADOS SOBRE O PORTO – 7º CICLO – 3ª CONFERENCIA- 25.03.2010

Uma oportuna Conferencia, onde os quatros intervenientes – incluindo o moderador – estiveram muito bem. Foi transmitida uma onda de “não pessimismo” aterrador – que esta a ser demasiado veiculada por muitos médias, e por uns pensantes e ao que parece ainda ouvidos “opinadores”, mais do mesmo - e por todos apresentadas oportunidades de avançar mudando o ritmo e o rumo em que nos encontramos, com alterações progressivas mas de fundo. Na economia, no tecido produtivo, que já não só industrial, na empregabilidade. Mudar para outros modelas, deixando de lado a insistência no que já está “gasto” e para além de preservar algumas das nossa antigas industrias – caçado e textos, - hoje já com diferente dimensão, menor, ! – investir fortemente no turismos de saúde – atenção se me permite o Daniel Bessa, os doentes, não são “clientes”! – no turismo sénior, nas industrias de grande tecnologia, com mais empreendorismo e muito diferente posicionamento, mais união, mais formação. Sendo que como foi referido estas mutações podem levar 10 a 20 anos a surtirem efeitos, e “como até lá todos temos que continuar a viver” fazer uma ponte entre o hoje e esse amanhã. Conferência interessante, civilizada, agradável, estão de muitos parabéns os 4 intervenientes, o Público e a Católica. Foi um conseguido bom momento.

os oradores foram: Daniel Bessa; o ministro de economia e o presidente da AEP, o moderador o director adjunto do Público.

De Zilda Cardoso a 27.03.2010 às 10:09

Muito obrigada, Augusto, pela partilha.

De Augusto Küttner de Magalhães a 27.03.2010 às 13:47

Com todo o gosto, dado de faco ter sido um bom momento, e alguém lá dizia - nos ouvintes - com alguma piada, que acabara de ouvir Medina Carreira na televisao.

Imaginemos o que não terá dito..................

E este ouvinte da Conferencia, continuou dizendo que no fim do Medina Carreira se virou para a mulher que estava ali com ele, e dissera posto isto só me resta suicidar-me e que agora ao ouvir aquela Conferencia, já tinha mudado de ideias......ainda podia continuar a viver!!!!!!!!!!!!

Comentar post





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

  Pesquisar no Blog



Arquivo

  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2021
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2020
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2019
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2018
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2017
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2016
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2015
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2014
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2013
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2012
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2011
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2010
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2009
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2008
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D