Nunca procuro as sextas-feiras – elas vêm ter comigo sem mais e com uma frequência inadmissível.
Hoje aconteceu, ainda uma vez. E cá estamos as duas, a sexta-feira e eu, em mais um encontro.
Aguardo algo bom em cada sexta-feira da minha vida, Friday, por assim dizer. Confio em que esteja sol, por exemplo, por mais que os meteorologistas digam que choverá. Que o mar esteja tranquilo, com um barquinho de pesca que espero não pesque. Mas que fica bonito deslizando sem pressas naquela quietação para o lado do porto, e resvalando daí a pouco para cá.
Assim, vejo hoje o dia da minha varanda. Esta sexta. Corre um vento gelado e não se pode estar.
Fixo imagens na máquina e regresso ao conforto. E em sonolência doce… sonho.
Sonho com estrelas em véus transparentes de luar. A luz subtil ilumina também as árvores redondas, os muros altos, as malvas perfumadas das varandas abertas. E todas as coisas flutuam sem cor e sem ruído, e dançam sorridentes.
Abro os olhos: o sol continua resplandecente, bem vejo. O vento passou e deixou um tempo admiravelmente quente. Regresso à varanda. Encontro por ali, livres, as palavras que desejo. Colho-as. Sirvo-me delas.
Aí estão. Falam de claridades, de movimentos, de rumores, de azuis, de presenças, de cheiros, de calor. Quero que falem de música.