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O que é a Política?

por Zilda Cardoso, em 09.11.09

 

Que pergunta!!
A política organiza as relações entre os homens - até aqui todos de acordo. Não lhe interessa o homem como às outras ciências humanas, mas a comunidade dos homens.
Segundo Hannah Arendt, não há nada de político no homem, na sua essência. A política não nasce com o homem, nasce com a comunidade.
E porque os homens que vivem em comunidade são muito diferentes uns dos outros e a política tem de cuidar das relações entre eles (repito), a tarefa dos políticos não é fácil. A política, pelo menos em democracia, deve  tratar como iguais seres que dificilmente se assemelham.
Vejam as contradições: a política tem de elaborar e instituir as relações entre os homens esquecendo que são diferentes ou, se quiserem, considerá-los iguais, sabendo que são diferentes.
De que modo pode ser assegurado que indivíduos tão desiguais beneficiem dos mesmos direitos? Porém, isto tem que ser garantido num regime democrático. Ou falaremos de “igualdade relativa” e de “diversidade relativa” (Arendt)? E em que aspectos são os indivíduos diferentes? E em que aspectos são iguais?
Trinta e cinco anos de moderna democracia permitem-nos pensar que gostamos de viver neste regime cheio de defeitos.
Gozamos um espaço de liberdade que é próprio desta actividade política: temos liberdade de expressão e demagogia, delírio consumista e desmoralização, sofistas por todo o lado. A desordem intelectual e a desordem social, instalam-se. E há alunos e seguidores de sofistas para quem a verdade e a justiça não contam. E há corrupção talvez porque a lei não tem carácter sagrado, é convenção e verdadeiramente não obriga. E o indivíduo…
Talvez devamos voltar a pensar no indivíduo e na necessidade de excelência moral e espiritual, na indispensabilidade de educação, de cultura, e na definição dos conceitos e princípios que o orientam, que nos devem orientar.
Como a todos, o porquê da corrupção imparável vem-me ao pensamento com frequência. Exaltamo-nos com tudo o que dizem e temos razões para nos sentirmos zangados.
Mas será que estão definidas fronteiras sobre o que é considerado corrupção e crime e o que não é crime?  Será por  esta razão que os processos nunca chegam ao fim... que não há conclusões... nem inocentes nem culpados...nem verdades nem mentiras?

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publicado às 17:13


16 comentários

De Augusto Küttner de Magalhães a 09.11.2009 às 23:54

Por certo vivemos com algum falta de rumo e de referências, e com muito “ter antes de ser! Mas também vivemos focados em encontrar defeitos em mal-dizer, o que nos fecha a porta a ver o que de diferente e positivo distingue uma democracia de uma diatadura!

De Zilda Cardoso a 10.11.2009 às 13:09

Caro Augusto.
Estamos de acordo: gostamos de viver em democracia e em liberdade. E por isso temos o dever de lutar pela excelência do regime. É bom que pensemos de que forma o podemos melhorar, visto que lhe encontramos defeitos. Se deixarmos para os n/netos uma democracia melhor do que a que encontrámos ou melhor do que a que inventámos há alguns anos... que bom. Teremos cumprido o n/papel, ou o que julgamos ser o n/papel.
Veja o que aconteceu com o famoso muro de Berlim: de uma maneira geral, diria que todos se regozijaram com o acontecimento que foi o s/derrube. No entanto, ouvi de várias pessoas histórias muito diferentes. Por exemplo, alguém que, dizem os familiares, morreu de desgosto por causa da unificação. Ou como ontem na televisão, alguém assegurar que viveu na RDA, durante vários anos, com um pequeno ordenado mas com tudo o que precisava para viver bem.
Um abraço.

De Augusto Küttner de Magalhães a 10.11.2009 às 21:51

Cara Zilda

Estamos totalmente de acordo. Sabe que isto do Muro de Berlim, tem muito que se lhe diga.
Desde na altura a França e o Reino Unido terem ficado em pânico, dado que possivelmente estaria a aparecer “por bem” a Grande Alemanha.
Não foi, e ainda bem.
A Alemanha Ocidental ter tido que englobar uma Alemanha Oriental tremendamente atrasada. Bem como o que a Zilda refere:” alguém assegurar que viveu na RDA, durante vários anos, com um pequeno ordenado mas com tudo o que precisava para viver bem.”
Efeito evidente da economia planificada , mas totalmente retrograda.
Sendo que hoje, estamos com um desnorte por não haver o muro.......parece estúpido, mas é real, “aquilo” era certo – mau, mas estava ali.

Hoje é tudo bom, mas não se sabe de onde vai aparecer o “mal”.

Julgo, que temos que olhar cada vez mais para o hoje, evitando erros de ontem, mas sem estarmos sempre para ontem a olhar...e tentar encontar um futuro, mais sorridente....

Não é facil

Um abraço

Augusto

De Vitor Martins a 11.11.2009 às 10:12

EXACTO! Essa é a resposta.

Ao ler hoje o meu comentário abaixo, não gostei do que se pode inferir do mesmo ... !

Adoro todos os Ti Joaquins, os Ti Antónios e as Ti Marias, porque há uma crueza e uma sabedoria verdadeira que não tem comparação. Não os quero excluir de nada, obviamente! Aliás, que saudades tenho dos tempos de infância, em que bastava sair das urbes, para depararmos com um pais rural, simples e aconchegante! Tempos das 'botijas de água quente' que a Laurinda nos mostrou há dias, tempos do cheiro a fumeiro e das lareiras sempre a crepitar, tempos de dureza, mas de verdade!

Para aperfeiçoarmos o problema cultural, terá mesmo de se investir na educação, porque é preciso que isso se entranhe a sério. Eu acho que o N/ povo tem dificuldades em desabrochar, em evoluir! Não se percebe tanto vandalismo, tanta corrupção, tanta falta de civismo! Eu adoro parar antes das passadeiras e fora delas e permitir que os peões passem, ou então, facilitar a saida de uma viatura, faço-o por sistema, mas 'volta e meia' recebo umas buzinadelas, uns insultos, etc, etc. Uma vez ia tranquilamente em familia, a 90 Kms/hora e um individuo deu-se ao trabalho de se encostar ao N/ carro, abrir a janela e insultar-nos porque iamos a estorvar o transito!! Depois arrancou furiosamente e deu uma guinada à nossa frente....

As democracias têm algumas fragilidades, uma delas é cultural, a outra é a liberdade e a outra a ... tolerancia. Compare-se com o que se passa com o fundamentalismo islâmico, ou com a falta de liberdade que prolifera nos paises árabes, na China, na Coreia, etc.

Imaginem o que aconteceria a Saramago se tivesse dito o que disse, no contexto do Alcorão ?!!

Abraços,

De Augusto Küttner de Magalhães a 11.11.2009 às 16:36

Se Saramago tivesse dito do Corão o que disse da Bíblia tinha a cabeça a prémio. Sendo que me parece totalmente dispensável que o Saramago ou alguém, que não esteja suficientemente habilitado ou na hora própria, esteja a comentar a Bíblia, o Corão….

Tudo a seu tempo,,,,,e por quem o deve fazer…

Em e com plena liberdade e nunca libertinagem….

Não dá, não interessa, ou tem outros interesses.

Abraço

akm

De Maria João Brito de Sousa a 10.11.2009 às 14:32

Olá, Zilda. Porque, de alguma forma, o que acabo de escrever no Mumbles me deixou, na boca, um travozinho desta mesmíssima questão sobre as nossas diferenças dentro da espécie, resolvi "voar" até aqui... o resto - pelo menos aquilo que, para mim, me pareceu tão pertinentemente adequado - foi obra dos tais Acasos...
Um abraço grande!

De Vitor Martins a 11.11.2009 às 00:22

Bom... na minha perspectiva a sua pergunta pode parecer simples mas não é! Esse dilema era discutido com frequência na faculdade de direito e até se dava como exemplo, um caso verídico americano de um julgamento em que um nativo matava um animal protegido para se alimentar!! Em cada disciplina via-se a coisa de uma forma diferente, em Dtº Criminal descíamos até às teses de Lombroso, as perspectivas endógenas e exógenas, etc, em Dtº Constitucional perdiamo-nos na lógica dos limites dos direitos de uns face à esfera dos outros, em Teoria Geral estudávamos a parte civil, enfim, em todas as áreas íamos desembocar na consciência social colectiva e nos ensinamentos filosóficos do bem e do mal, dos limites dos direitos e dos deveres, na verdade paliciana que só percebemos a justiça, quando somos injustiçados, etc, etc. Mas sabe cara Zilda, se entramos numa lógica como a do 'filósofo que com um badalo e uma lamparina vagueava pela noite à procura de um homem', arriscamo-nos a colocar tudo em causa, mesmo aquelas realidades bem enraizadas e que não têm alternativa! Por exemplo, a Democracia é o modelo politico social ideal, mas que valor tem o voto de uma simpática velhinha analfabeta e que não faz a mínima ideia do que é um programa de governo?! Outro exemplo, como enquadrar no regime democrático, o instituto do referendo?! Na verdade não existem referendos, o que existem são encenações para se obter uma resposta num determinado sentido! Depois de se conseguir a resposta que interessa, o assunto morre! Até lá vão-se repetindo os referendos!!!
Não sou monárquico, odeio regimes ditatoriais, mas confesso que começo a estar saturado da democracia e se eu disser que o meu voto deveria ter um peso diferente do voto do “Ti Antonio”, cairia o Carmo e a Trindade e seria apelidado de fascista, arrogante e presunçoso!

Neste momento sinto-me um pouco, nem sou água, nem sou vinho, é como a lógica da criação e da evolução, a teoria da evolução é manifestamente irrealista, mas a criação é mais irrealista ainda!! Em que devo ficar?!

Abraços,

PS: Pedi à Laurinda para lhe enviar o PDF do meu livro. Quando o receber confirme-me para o mail: hepaturix@net.novis.pt
Obrigado,

De cabecilha flipado e companhia a 11.11.2009 às 12:28

Começar por definir política e passar para a corrupção enferma de obliquidade estratégico-somática.
... o ser humano gosta de consumismo, demagogia, hipocrisia, cobardia, oportunismo e corrupção... serão defeitos do regime? Este tipo de desabafos leva a alternativas fascizantes... Pode-se desabafar... mas masss com cuidado ss ss ss :)

De Vitor Martins a 12.11.2009 às 14:05

O que é "obliquidade estratégico-somática"?

De Zilda Cardoso a 12.11.2009 às 18:07

Calculo que seja uma brincadeira. Cabecilha, Flipado e Companhia têm UM SENTIDO DE HUMOR pesado e por vezes difícil de entender, mas são pessoas inteligentes que muito prezo.

De Hyron Resende a 11.11.2009 às 20:11

Ex.ª Senhora Zilda Cardoso,

Venho, recentemente, acompanhando o seu blog, por causa desta nova abordagem, na temática da política.
Concordo e gosto das suas linhas de pensamento.
Contudo, como forma de curiosidade, e desde já peço-lhe desculpa pela minha ignorância, gostaria de saber referências (site, livros...) sobre Hannah Allende.
Desde já agradeço-lhe.

Com os melhores cumprimentos,
Hyron Resende.

De Zilda Cardoso a 12.11.2009 às 18:14

Naturalmente reparou que escrevi mal o nome daquela autora alemã tão extraordinariamente inteligente, formada em filosofia, teologia e filologia, e que ensinou filosofia e ciências políticas nas universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos.
Peço desculpa pelo erro, por si apontado de forma tão subtil.

De Vitor Martins a 11.11.2009 às 21:17

Cara Zilda,

Queria fazer-lhe um convite, mas não queria fazê-lo sem antes lhe enviar o meu livro e permitir-lhe a sua leitura. Pedi à Laurinda para lho enviar.... Importa-se de mo dar para esse efeito.
Peço-lhe que utilize o hepaturix@net.novis.pt
Obrigado

De Karla Fidalgo a 27.11.2013 às 23:57

Olá, boa noite..
Vejo o quando a Sra. tens conhecimentos sobre está área, estou a fazer um trabalho para faculdade de direito sobre o mesmo. Gostaria de seu comentário, a respeito sobre a ética verso política, então o que me diz?
Grata desde já,
Abraços.

Karla Fidalgo.

De Zilda Cardoso a 28.11.2013 às 08:59

De forma geral, as pessoas não estão preparadas para viver em democracia. Não foram suficientemente educadas nem instruidas para a compreender. O que passa naturalmente pelos OUTROS. Pela consideração dos outros. Dos seus direitos e do direito de os usarem. Mas que passa também pelas obrigações de todos... por igual. Como se fôssemos todos iguais.
Então o assento tem que ser posto na educação, na preparação para viver num tal regime político. Para nos entendermos em democracia, devíamos ter todos a mesma idade mental que provavelmente podia ser a dos 15 anos de idade. Que infelizmente a maior parte da população não tem.
Mas é importante que nos orientemos por princípios básicos de moral (adequada).
Muito obrigada pelo seu comentário. Volte sempre.

De Zilda Cardoso a 28.11.2013 às 09:03

Veja a minha resposta no post de 9/11/2009.

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