Ontem foi inaugurada no Museu Soares dos Reis a exposição - “Do sec. XVII ao XXI: além do tempo, dentro do Museu”.
Fátima Lambert guiou-nos numa visita indispensável para entendermos a razão de grandes fotografias actuais ao lado de pintura do século XIX. E também vídeos, peças de artesanato e outros trabalhos feitos de diversos materiais. Ficamos a perceber o paralelismo que a comissária encontrou e explicou, e entendemos que se podem descobrir muitos outros.
Procurou obras cujas temáticas e/ou formulações técnicas “promovessem confronto com obras da autoria de artistas portugueses actuais”. Fala de simulacro e de semelhança. De metáfora, de afinidade, de similitude e também de dissemelhança.
As escolhas podem dar lugar a equívocos e sobretudo a ambiguidades, a discordâncias, a extrapolações, mas, sem dúvida, é uma exposição que contribui para uma “vivificação de tempos e de espaços no Museu”.
Aprecio as exposições bem organizadas do Soares dos Reis e sobretudo as conferências com temas de grande interesse que me surpreende sempre serem tão pouco frequentadas.
Este é para mim uma espécie de museu caseiro, dotado de belo património e de excelentes meios de o expor. É caseiro pela proximidade de tantos anos a visitá-lo, na verdade, desde muito jovem. (Quando os meus filhos eram crianças, o pai levava-os ao museu todas as manhãs de domingo). E por isso tudo me parece familiar. E depois a casa não foi construída para museu mas para residência de família e, se bem que muito remodelada, alguma coisa resta desse outro tempo. Talvez apenas um vago perfume, uma luz diferente, uma janela que se abre, o jardim húmido e um pouco triste… e o meu permanente idílio com as coisas belas da cidade.
Achei particularmente interessante a exposição, para mim original. Vemos agora no mesmo espaço e postas em paralelo por algumas semanas obras contemporâneas junto de obras da casa. E somos convidados a descobrir de que modo temas e formas se podem aproximar.
Pudemos percorrer as salas do Palácio, mesmo as que normalmente não são visitadas. Todas tinham propostas de relacionamento entre as mais diversas linguagens e morfologias. Além de pinturas e esculturas há faianças, cristais, pratas, jóias e biombos namban. E artesanato.
É talvez a arte decorativa em que o Museu é rico que nos dá a atmosfera familiar, extremamente requintada, que habitualmente encontramos ali.