Era Dezembro, finalmente: eu ia rever a minha Mãe.
O meu coração estremecia, antecipando o encontro. O comboio trepidava agora e silvava alto para mostrar que partilhava a minha ansiedade; e eu, de nariz amassado contra o vidro embaciado da janela, querendo observar de mais perto cada árvore, cada povoação e todas as estações por onde passávamos, esforçava-me por me convencer de que era de casa que nos aproximávamos.
Era realmente de casa que nos aproximávamos!
Quando os freios começaram a gemer e o comboio parou na estaçãozinha de Farád, saí aos pulos para saudar toda a gente – o chefe da estação, o cocheiro, todos os que via. Até os cavalos foram questão de exuberante entusiasmo. Eles compreenderam o porquê de todo aquele arrebatamento, e trotaram por caminho conhecido, puxando alegremente a carruagem carregada de malas.
Meu Deus, pensava eu, pode existir maior felicidade do que esta de voltar para casa, de estar em casa?
Como escreveu o grande poeta húngaro Sándor Petofi,
A caminho de casa, quebrei a cabeça de tanto pensar,
Minha mãe, a quem há muito não via... como iria saudar?
Que lhe direi de bom e doce? Que farei quando a encontrar?
Mas ao chegar, nada disse e nada fiz senão seu corpo abraçar!
Tal como eu.
Mas não havia só a minha Mãe para abraçar com emoção.
Em casa, estreitei nos meus braços toda a gente, incluindo os cães e os gatos. Com o coração fremente do calor que não era apenas o que me dava a lenha que ardia na lareira, mas sobretudo o que vinha do muito amor de todos, senti um conforto impossível de imaginar noutras circunstâncias: esses momentos não quererei nunca esquecer.
No dia seguinte, já mais tranquila, percorri todos os cantinhos da casa, redescobrindo os seus pequenos prodígios.
E então anunciaram-me que haveria, nesse dia na propriedade, uma caçada à raposa.
Ainda uma maravilhosa surpresa para mim!
(Versão minha de memórias alheias)