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Uma campanha eleitoral

por Zilda Cardoso, em 25.09.09

 

Viver num país onde há campanha eleitoral ao longo do ano, todos os anos desde há já longos anos, é pelo menos acabrunhante.
Não é que eu não goste de eleições ou não compreenda a sua importância num regime democrático. Sei que devemos escolher e aprecio ser eu a escolher. Seleccionar por mim própria sem imposições. E compreendo que é necessário estar preparado para escolher com tino.
Não dar preferência apenas pelo aspecto físico, pela beleza do sorriso, pelo tom harmonioso da voz ou pelo encanto dos gestos: tudo isso se cultiva. Porém, é fundamental distinguir quando é dissimulação ou quando há mesmo intenção de cumprir o que é programado e está a ser anunciado.
Todos nós sabemos de cor, depois desta experiência longa, que muito diferentes saberes são imprescindíveis.
Porém, por muito que me custe, perante os hiper-enfados desta sucessão de campanhas eleitorais, só posso ter a certeza de que é urgente - já que não é possível mudar nem os homens nem as mulheres - descobrir um outro sistema de governo mais de acordo com o nosso tempo, direi, mais moderno. Os mais novos, devem entender.
Que tal poder contar com a sabedoria e o saber de todos que tenham pelo menos uma idade mental de quinze anos? Como dizia A. Huxley é provável que desse modo “a influência dos demagogos e dos jornais fosse consideravelmente reduzida”.
As eleições não têm nada de mal, pelo contrário, as campanhas é que têm. Não estamos fartos?
Todos os meios de comunicação social estão em campanha ininterrupta, parece ser disso que vivem, e estas duas semanas de cuidados intensivos e manipulações assanhadas que este ano acontecem três vezes, só podem ser desmesuradas, descomedidas, supérfluas (por favor, acrescentem todos os adjectivos densos de que se lembrem para ilustrar devidamente a ideia).
É consumida demasiada energia e muito dinheiro em ligeirezas que são estratégias e planos que visam impor certas ideias e não dar a conhecer realidades. Quem tem uma causa que defende com determinação? Digam-me quem é que eu vou votar nesse.
O que vemos é uma campanha de maldade, maledicência, mentiras e mexericos articulados com grande alarido de abraços atropelados e de beijos na orelha, cabelos desgrenhados e absoluta falta de humor. Que CENAS! Se não fosse o Gato Fedorento…! Estas cenas, é que parecem ser a sério. Porque as grandes questões não se põem agora, não é agora nem nunca será ocasião de cogitarmos no processo de as resolver.
Quem pode resistir a tanto azedume e zanga, a tais insultos, congeminações e insinuações, a acusações e a envolvimentos indesejáveis sem ficar triste e melancólico? Ou pior. Deprimido? Provavelmente, com vontade de emigrar para um confortável deserto. Ou para Marte.
Porque os políticos querem ganhar, já sei. Mas à custa de quê? Da nossa ignorância, da nossa falta de curiosidade e de desejo de saber?
Que políticos (sabido que não são todos iguais, mas quase) fazem apelo à nossa imaginação para descobrirmos coisas relevantes que não digam respeito a interesses de partidos mas ao bem de todos, ao chamado bem comum ou mesmo interesse comum? Ou estaremos apenas interessados naquilo que nos afecta directamente, como dizem?
Cairemos em nós um dia destes.
Então com esforço inteligente, iremos procurar adquirir os conhecimentos necessários para nos sentirmos responsáveis pelas decisões que tomarmos e pela solução dos problemas que tivermos de enfrentar.
E talvez seja razoável o que desejo.

 

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publicado às 10:56


10 comentários

De Marcolino Duarte Osorio a 26.09.2009 às 10:07

Olá, Zilda!

Belo artigo!
Bom fim-de-semana!
Marcolino

De Zilda Cardoso a 26.09.2009 às 12:28

Como vai, Marcolino? Estamos ansiosos por saber alguma coisa sobre a s/saude. Tem estado bem?

De Marcolino Duarte Osorio a 26.09.2009 às 13:31

Zilda, tenho passado muitissimo bem, apesar de ter andado um pouco calado pela nete.
Contdo posso adiantar-lhe que, dia 29 deste mês, próxima terça-feira, darei entrada no Hospital para a segunda operação. Desejo seja a minha última! Estou muitissimo confiante!
Bom fim-de-semana!
Marcolino

De Augusto Küttner de Magalhães a 29.09.2009 às 08:54

Caro Marcolino, desejo que corra tudo pelo melhor, e que a operação seja a “última” dado – depois desta última - ter ficado definitivamente BOM e não precisar mais de qualquer operação.

FORÇA!

Um forte abraço do

Augusto

De Saltadouro a 26.09.2009 às 13:08

"Que tal poder contar com a sabedoria e o saber de todos que tenham pelo menos uma idade mental de quinze anos? Como dizia A. Huxley é provável que desse modo “a influência dos demagogos e dos jornais fosse consideravelmente reduzida”.

- Gostei do texto que vai ao encontro do que penso eu e muitos sobre gastos e ridicularidades , ausência de verdade e propostas de mentira.
E agradou-me particularmente a frase que transcrevi mas que, aplicada ao nosso tecido cultural não passa de uma linda utopia!

Bom fim de semana!
Fique bem.

De CC a 27.09.2009 às 17:33

Olá Zilda,

Compreendo o enfado de tanta campanha.
Também me sinto assim enfadada e, paradoxalmente manietada pela democracia.
O voto, não deveria ser o fim único de uma democracia mas parece que no nosso país democracia é só isso mesmo, possibilidade de votar.

Mas esse voto traduzirá liberdade de escolha ou é apenas o resultado de uma campanha com todas esses erros que refere e em que a difamação é o mais repugnante?

Um bjnh e fique bem!

De Zilda Cardoso a 28.09.2009 às 17:02

Sinto-me quase aliviada por ter chegado ao fim. Não de todo... porque vamos recomeçar. Mas talvez agora sem tanta agressão, sem tanta violência que já não será tão importante.
Em que nos transformamos? Não tenho qualquer nostalgia do passado, apenas quero que o presente seja agradável para qualquer. O seja para todos... Que todos constituimos o nosso ambiente. Quem é que quer perder o sorriso? É bom que ele permaneça nos rostos de todos. Todos os eleitos de diversas cores vão estar lá, no Parlamento, a discutir os mesmos problemas, que são gerais. É bom que assim seja e que cheguem a consensos. É bom que discutam, que critiquem, e que cheguem a acordo sem nunca, nunca perder de vista o interesse comum. É suposto que confiamos neles e que devemos permanecer tranquilos.
Por isso, poupem-nos.

De Augusto Küttner de Magalhães a 29.09.2009 às 08:58

Penso que em muitos há um "efeito demissão", ou seja não temos - nem devemos, se não nas nossas idades, faremos igual!!! - que ser políticos, mas livremente podemos exercer a nossa cidadania, comentando, escrevendo, dando opiniões, não pagas, para semos independentes e opinar!!!!!livre e edicadamente!, sem mais que não sejam as próprias opinioes!

De Augusto Küttner de Magalhães a 29.09.2009 às 08:51

Citando-a estou totalmente de acordo:

- Os mais novos, devem entender.
- ... já que não é possível mudar nem os homens nem as mulheres - descobrir um outro sistema de governo mais de acordo com o nosso tempo, direi, mais moderno.
- ... Que tal poder contar com a sabedoria e o saber de todos que tenham pelo menos uma idade mental de quinze anos?
- ... O que vemos é uma campanha de maldade, maledicência, mentiras e mexericos articulados com grande alarido de abraços atropelados e de beijos na orelha, cabelos desgrenhados e absoluta falta de humor.

Está chegada a altura de mudar “tudo”, e não vai ser nada facil, mas se não for feito, “isto” já não tem compostura. Necessitamos que os Jovens, sem estarem ligados a quem já está a fazer da “política a sua vida”, entrem para a política, para a cidadania.
Nunca com o fito do “poder pelo poder”, “de serem falados”, “de terem muitas mordomias”, claro que não devem ir com “espírito de missão”, devem ir com convencimento, com clareza de ideias, com boas ideias, com educação que é mais que instrução, com respeito por si e pelos outros, fugir a tudo o que vemos hoje, dado que tem sido o inverso....... Só assim vai ser possivel, caso contrário vamos andar nisto: - disse que disse, quanto mais malcriado e maldizente melhor, quanto mais importante e poderoso melhor.
É tão pouco, tão pouco! E não nos leva a sitio nenhum.
E podem contar conosco nós menos jovens, de forma alguma para lá estarmos, para lá irmos, dado que seria tudo ficar na mesma, mas para de quando em vez dar opiniões, que não têm de modo algum que ser seguidas, mas todos os que “não somos figuras públicas” estamos mais isentos, mais livres, para aconselhar!

De Augusto Küttner de Magalhães a 30.09.2009 às 09:43

30 de Setembro de 2009

Ao ler o Editorial de do - ainda - Director do Público - JMF de 30.Set.2009, ainda percebi menos do seu conteúdo que do conteúdo da Comunicação de 29. Set do PR.
Porquê? Expliquem-me, por favor, para ver se neste aspecto não terei que dar razão a Albero João Jardim, e assumir que endoidem totalmente!!!
e
Ressalvo a oportunidade de algumas frases do Director do “i” Martim Avillez Figueiredo quanto à comunicação ao País do PR, em 29 de Setembro, que subscrevo:

- O que nem os bons entendedores conseguem perceber é de quem fala o Presidente
-- Uma conclusão para bom entendedor: Cavaco não pode ver Sócrates nem pintado.
- Um primeiro-ministro não deve ao país arrogância, tal como um Presidente não deve ao país declarações que o encham de dúvidas. O país endoidou, como sugeria Alberto João Jardim?
- Já aqui se escreveu que um Presidente - ou um primeiro- -ministro - não pode falar por enigmas ou sugestões. Não pode insinuar. Sim, não poder é expressão forte. Ele pode. Mas não deve. E o que o país continua sem saber agora é se há escutas, se Cavaco vai nomear Sócrates, se Cavaco vai colaborar com aquele em quem os portugueses mais votaram domingo passado. Como num bom jogo de póquer, Cavaco ficou de novo com a voz do jogo. Falta virar algumas cartas. Mas nas que faltam Cavaco (mesmo recorrendo ao bluff) está na liderança do jogo.
- E a próxima jogada é que as destacadas figuras do governo, como lhes chamou o Presidente, digam o que pensam. Uma última ideia? O país precisa de ter caminho. Porque está à beira do abismo.
Augusto Küttner de Magalhães

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